MOTOCRACIA PATENSE

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TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2020)

Você sabe a diferença entre motociclista e motoqueiro? O motociclista é aquele que aprecia esse tipo de veículo para lazer e/ou trabalho, e, sabedor de que a indústria produz motos cada vez mais silenciosas, respeita as características de sua máquina e justamente por esse enorme detalhe não incomoda os ouvidos de nenhum de seus semelhantes, tanto no lazer quanto no trabalho, porque ele próprio não suporta barulho. É raro em Patos de Minas, um aqui, outro acolá, e de vez em quando nos deparamos com um deles em suas andanças salutares pela Cidade¹. São aqueles que receberam educação adequada, isto é, tiveram berço, e que têm a autoestima apurada.

A partir daqui, as referências são, única e exclusivamente, ao motoqueiro.

Sente-se em um lugar confortável de seu lar, seja de manhã ou à tarde. Assuma a postura de meditação, concentrando-se unicamente nos sons. Você vai captar uma zoeira danada, o ciclo fisiológico da Cidade no dito período: automóveis, vizinhos conversando alto ao lado ou em frente à sua casa, cachorros latindo, bem-te-vis miando, pardais piando, britadeiras e estacas nas construções, carros anunciando produtos no penúltimo volume, mais um mundaréu de sons estridentes e… motos. No meio de toda a zoeira, acredito que você mais percebeu foi o som delas, as motos. Acertei?

Repita a operação à noite. Você vai reparar que a zoeira diminui muito. Não se ouve mais bem-te-vis miando, pardais piando, britadeiras e estacas nas construções, carros anunciando produtos no penúltimo volume, vizinhos conversando, muitos outros sons estridentes e os latidos de cachorros diminuem, ficando aqueles órfãos que, perdidos, danam a latir até para o Sol em plena escuridão. Quando muito, um carro fazendo barulho ao passar pela sua rua. Ao longe, é um zumbido ameno. Isso na normalidade, sem um besta vizinho promovendo uma festa. E ainda sem contar com os carros de polícia, bombeiros e ambulâncias, mas desses não podemos reclamar, é mais do que óbvio. Mas, ora, é claro que na sua meditação o que mais lhe despertou foi o barulho das motos. Sim, elas, sempre elas se destacam. E assim, madrugada adentro, quanto mais o silêncio se assenta, mais os roncos das motos se arvoram. É nesse momento que você chega à seguinte conclusão: há uma Motocracia em Patos de Minas.

Sim, elas, as motos, comandadas pelos motoqueiros, são intocáveis em Patos de Minas. Elas são tão importantes que, em alguns cruzamentos com sinais luminosos, conhecidos também como semáforos, há placas indicando que o lugar delas é à frente dos automóveis. Fato irrelevante e gasto público inútil, pois elas não precisam disso: sempre ficam à frente dos automóveis. Todos os outros veículos, incluindo carroças e bicicletas, são obrigados a cumprirem as Leis de Trânsito. E, lógico, elas também. Mas e daí? E daí que, independente da categoria, elas não estão nem aí para a Lei, assim como as carroças e as bicicletas. Tanto é que elas, as motos, trafegam sistematicamente em altas velocidades por onde quer que decidam trafegar: entre os carros, nos passeios, nas faixas de ciclistas, te ultrapassam pela direita, pela esquerda, por trás, pela frente e sabe-se lá um dia pelo teto, e raras são as que respeitam faixa de pedestres.

Há diversos tipos de motos: as de pequena cilindrada, inúmeras ocupadas por mulheres, algumas lentas demais da conta; as de média cilindrada, a maioria, e as potentes, que geralmente estão dolosamente com o escapamento alterado para azucrinar os ouvidos dos sãos. Eis aqui o X da questão: noventa e nove vírgula cem por cento das motos dos motoqueiros estão com os ditos escapamentos fora das normas legais, ou por consequência de falta de manutenção ou por interferência pessoal. É uma barulheira tremenda, principalmente das potentes com seus condutores com baixa autoestima em uma necessidade extrema de mostrarem ao mundo que eles existem. E tem milhares das tais “125” que são deveras mais insuportáveis que as potentes. E ainda tem aquelas de trilha que fazem questão de mostrar na Cidade o quão vão barulhar no mato. É por isso que, a qualquer minuto do dia e da noite, seus ouvidos não se veem livres delas.

Uma das características dos motoqueiros é a arrancada. Sim, arrancada, pois quando o motoqueiro monta em seu alazão mecânico ele não inicia o movimento de acordo com a normalidade, como faz qualquer automóvel, ele sai faiscando o asfalto como se tivesse numa largada de Fórmula Um, e assim prossegue pelas vias da Cidade. Outra característica é o tórax encurvado, fazendo-nos crer que todo motoqueiro tem cifose.

Está evidente, então, que o som que domina Patos de Minas é o maléfico ronco das motos dos motoqueiros, questão de SAÚDE PÚBLICA há décadas. Há algo a fazer contra isso? Há, se tivéssemos um poder público que cumprisse com o seu papel de reverter o voto e o salário que o mantem em prol dos seus tutores financeiros. A solução é simples: uma Lei que só permita o trânsito de motos na Zona Urbana com escapamento original, isto é, que não barulhe, quando muito ocasione um levíssimo zunido. Simples, né! Diz o ditado: quem quer, faz! O problema patense é que o nosso poder público não quer. Raciocine comigo: um poder público que desobedece todos os 408 Artigos do nosso Código de Posturas e não consegue interromper o trânsito de carretas na Rua Major Gote vai se preocupar com barulho de motos? E muito menos com você que acabou de ler essas amargas e verdadeiras palavras. Ah, e nas próximas eleições, não adianta mudar o seu voto, pois vai continuar tudo como dantes no quartel de Abrantes, pelo motivo mais básico do mundo: isso aqui é Brasil, onde os governantes, patrocinados pelos contribuintes, só fazem o que querem!

* 1: Leia ” Fato Inacreditável no Trânsito” e “Diego Ribeiro: Um Motociclista a Ser Aplaudido”.

* Foto: Transitoeconviviosocial.blogspot.com.

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