CINE MAGALHÃES

Postado por e arquivado em DÉCADA DE 1910, FOTOS.

O patense viu o cinema pela primeira vez em 1907 no barracão de propriedade de José Rodrigues Zica e José Pecci. Como a arte estava nos primórdios, os filmes eram pequenos esquetes do cotidiano. A coisa agradou tanto que Domingos Gomes montou um cinema ambulante com motor à gasolina e gerador com lâmpada de arco voltaico.

O entusiasmo pela novidade cresceu ao mesmo tempo em que as películas foram se aperfeiçoando. Era comum as rodas de bate-papo sobre o assunto. Euforia que contagiou o Cel. Arthur Tomaz de Magalhães, que vinha de uma fracassada tentativa de desenvolver o teatro na cidade¹. Juntando o gosto pela nova arte e a possibilidade de bons negócios, arriscou criar uma sala de exibição de filmes. O projetor era o mesmo de Domingos Gomes.

Assim o Cine Magalhães se tornou o primeiro local próprio para cinema construído em Patos de Minas, inaugurado em 10 de maio de 1913, na esquina da Rua Olegário Maciel com Avenida Getúlio Vargas². Dispunha de 105 assentos avulsos, além dos destinados a assinantes. Possuía ainda cadeiras especiais e camarotes cativos, ocupados apenas pelos membros da família.

Era comum os grandes intervalos entre os filmes, geralmente de curta e média duração. Em virtude disso foi instalado nos fundos uma espécie de “cantina”, que ficou conhecida como “Botequim do Matraca”, onde se servia um café com leite engrossado com polvilho, acompanhado de quitandas. Ali os espectadores, já lá para as 10 da noite, enquanto aguardavam a outra sessão, lanchavam e batiam um animado papo durante mais de meia hora.

Matraca era um homem gordo, bonachão e muito espirituoso que divertia as pessoas com suas piadas, possuidoras de graça somente em sua boca e no seu jeito de contá-las. Foi também o dono do primeiro salão de barbeiro em Patos e barbeava sobretudo os ilustres habitantes.

Havia projeções somente aos domingos, com início às 20 horas. Era pelos estrondos dos foguetes que se tomava conhecimento da existência ou não da sessão naquele dia. Ali pelas seis horas espocava o primeiro foguete. Às sete horas, ouvia-se o segundo e, quando já ia começar o filme vinha o terceiro e último. Como pioneiro no ramo, quem operava o projetor era João de Barros.

Em 1934, já desanimado pelo cansaço e pela idade, e principalmente pela forte concorrência de outro cinema, inaugurado em 1920 (Cine Glória³), o coronel Arthur arrendou o negócio ao padeiro Tito Silva. Foi uma fase de grandes filmes na “tela do Magalhães”. Tito topava o desafio do público e contratava os filmes de maior agrado. Vencido o contrato de arrendamento, fecharam-se as portas do Cine Magalhães. Em 1948, no mesmo local, foi construído outro cinema – o Olinta4 – de propriedade de Amadeu Dias Maciel, funcionando por poucos anos. Logo depois o prédio funcionaria como sede da Rádio Clube de Patos.

1.º POUSO*1: Leia  “Sobre o Teatro em 1911”.
* 2: Leia “Primeira Notícia Sobre o Cine Magalhães”, “Testadas as Máquinas do Cine Magalhães Antes da Inauguração” e “Endereço Misterioso do Cine Magalhães 1 e 2”.
* 3: Leia “Cine Glória”.
* 4: Leia “Cine Olinta: Reforma e Cinemascope – 1956” e “Cadeiras do Cine Olinta”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca, e Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello.

* Foto: Arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

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