PATOS, PARAÍSO DOS MENDIGOS

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TEXTO: ANTÔNIO DIAS MACIEL (1941)

Alguém já deu, irreverente, a Patos os epítetos de “Paraíso dos Mendigos” e “Terra dos Jogadores”. Na realidade são problemas que vêm desafiando, de longa data, a energia das autoridades policiais e os sentimentos piedosos de nossos homens. O pedinte que passa diante de nós, indiferente aos dispositivos da lei penal que punem a ebriedade e a malandragem, ao invés de ser julgado, atira-nos ao tablado para um julgamento. Os homens livram-se facilmente do tribunal do júri, mas, não escapam do júri da esquina, da opinião pública, às vezes, tão sábia para pronunciar os seus veredictos.

Nem sempre o mendigo necessita da esmola pedida; precisa antes de uma palavra orientadora e de ânimo para mudar a diretriz da vida ociosa.

O que suplica de porta em porta e que mais consegue no findar do dia, é o mais esperto, mais hábil nas queixas e lamúrias.

A pior maneira de se fazer caridade é esta de dar indistintamente o níquel a todos os que procuram, sem indagar das reais necessidades daquele que implora.

Defeitos morais, taras não se corrigem com estas manifestações externas. Nós criamos criminosos e decaídos para o futuro, quando o nosso gesto de solidariedade humana não ultrapassa os limites de uma moeda divisionária, posta, ao acaso, na mão estendida da criança suja que pede “para o pai que está doente e de cama sem poder trabalhar”.

Desde que foi instalado o Hospital Regional, o número de pedintes aumentou consideravelmente. Vêm eles, a conselho, procurar aquilo que somente os asilos e congêneres organizações podem dar. Vêm e ficam, deambulando pelas ruas, oferecendo o espetáculo entristecedor que tanto nos acabrunha. Encarar a situação é tarefa de grande monta. Tentativas neste sentido têm fracassado, é verdade, mas, é melhor mil vezes a ação do que a inércia dos nobres e alevantados empreendimentos. Quem inicia, já fez alguma coisa. Destas colunas, nós sugerimos, como reflexos que somos da opinião pública.

O outro mal, o do jogo está, agora, atravessando um período de franca decadência.

Aqueles indivíduos que se alimentavam somente da fraqueza dos viciados estão desaparecendo do nosso meio. O jogo existe, sim, mas, de uma maneira mais branda, sem grandes proventos para os “especializados”. A forma do mal é mais benigna. Uma forcinha conjugada poderá debelar a infecciosa moléstia para sempre.

Quem estará à altura de tão grandioso cometimento? Abrindo a luta, pela violência, aguça mais ainda o apetite dos profissionais. Propaganda tenaz é iniciada contra as autoridades, telegramas são tramados ao sentido de desmoralizá-las. A ação é tão eficiente que, segundo afirma, delegado militar algum lhe poderá resistir. Contam mesmo que os dois únicos que não se renderam, foram, um pouco, desmoralizados por uma campanha sistemática dos interessados. Será que, por tudo isto, a imprensa deva calar-se? Tudo indica que estes problemas – o da mendicidade e do jogo de azar – devem ser tratados atualmente por todos aqueles que se orgulham de viver neste pedaço de Minas Gerais. E aqui nos achamos no desempenho das funções que o nosso programa e o nosso feitio moral nos impõem.

* Fonte: Texto publicado da edição de 27 de abril de 1941 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Entorno de Mercado, de Patoshoje.com.

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