ERLIQUIOSE

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A Erliquiose é uma hemoparasitose (doença transmitida por parasita que ataca as células do sangue) que atinge cães, gatos, equinos, ruminantes e humanos, sendo assim, considerada uma zoonose. As primeiras informações sobre esta doença procederam da Argélia, África do Sul, Quênia e Rodésia por volta de 1936 e desde então vem sendo notificada em diversas regiões tropicais e subtropicais do planeta. Foi diagnosticada pela primeira vez no Brasil em Belo Horizonte em 1973. Posteriormente, foi relatada acometendo aproximadamente 20% dos cães atendidos em hospitais e clínicas veterinárias de Estados das regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro Oeste, sendo hoje, considerada uma doença endêmica principalmente nas áreas urbanas.

É causada pela bactéria Ehrlichia cani. A transmissão ocorre com a participação de um vetor, o carrapato Rhipicephalus sanguineus, também conhecido como carrapato marrom do cão. O parasita encontra-se, principalmente, nas regiões tropicais e temperadas. O artrópode, ao realizar o repasto sanguíneo em um cão infectado, contaminar-se-á ao ingerir os leucócitos infectados pela Ehrlichia canis. A bactéria irá se multiplicar no sangue e nas células da glândula salivar do vetor. O carrapato infectado, ao sugar um cão sadio, irá inocular junto com sua saliva a forma infectante da bactéria. O vetor adulto pode sobreviver por um mínimo de 568 dias e pode transmitir a doença por mais de 155 dias depois de se desprender do hospedeiro.

Os cães infectados podem desenvolver sinais brandos a intensos ou mesmo não apresentar sinais, dependendo da fase da doença em que se encontram. A gravidade da doença depende da cepa infectante, da idade do animal, da suscetibilidade e da alimentação. Através de estudos baseados nos sinais clínicos e patológicos, foi possível distinguir três fases da doença, a aguda, a subclínica e a crônica.

A fase aguda persiste por duas a quatro semanas, tendo início, aproximadamente de 8 a 20 dias após a infecção. Nesse período, as bactérias se reproduzem nos leucócitos e, através da circulação, o parasita irá se espalhar por diversos órgãos como o baço, fígado e linfonodos. Os sinais clínicos presentes nesta fase são febre, falta de apetite, depressão, aumento de linfonodos e redução do número de plaquetas. Essa fase geralmente passa despercebida e no final da quarta semana, aproximadamente, os sinais clínicos desaparecem. Entretanto, os parasitas permanecem no animal. Esta é a principal fase onde se consegue identificar “embriões” do parasita em leucócitos através de esfregaços sanguíneos. Nesta fase há presença de anemia devido à perda de sangue e comprometimento hepático.

A fase subclínica é caracterizada pela persistência da Ehrlichia canis no animal. Ocorre em seis a nove semanas. Entretanto, alguns cães podem conviver com o parasita da doença por anos e podem eliminá-lo através do sistema imunológico e recuperar-se sem tratamento. O animal parece saudável, pois os sintomas são mais brandos, podendo ocorrer leve perda de peso. É nesta fase que se observa alta concentração de anticorpos no sangue dos cães infectados. Ao final da fase subclínica, instala-se a fase crônica devido à ineficiência do sistema imunológico do animal.

Na fase crônica, os sintomas são graves, como redução de todas as células sanguíneas, intensa afecção renal, hemorragias e aumento da suscetibilidade às infecções secundárias. Essa fase assume as características de uma doença auto imune, sendo a principal característica a diminuição tecidual da medula óssea, resultando em anemia aplásica. A susceptibilidade às infecções secundárias aumenta, em consequência do comprometimento imunológico. Em até 50% dos casos, observa-se a presença de lesões oculares, tais como hemorragias conjuntivais, opacidade corneana, uveíte e hipotonia, entre outras.

O diagnóstico da Erliquiose canina pode ser realizado através da presença de “embriões” nos leucócitos parasitados encontrados na avaliação de esfregaços sanguíneos. Na rotina clínica, os Médicos Veterinários levam em consideração o valor da contagem de plaquetas, pois um dos principais sinais da doença é justamente a diminuição do número daquelas células sanguíneas. Os testes sorológicos auxiliam no diagnostico da Erliquiose canina, desde que aliados ao histórico e ao exame clínico do cão.

O sucesso do tratamento depende da precocidade do diagnóstico, o que leva a uma melhora do prognóstico. Existem algumas drogas empregadas por hospitais e clinicas veterinárias no Brasil para esse fim, tais como a tetraciclina, oxitetraciclina, doxiciclina e dipropionato de imidocarb. O tratamento deve ser realizado durante três a quatro semanas, ou até oito semanas naqueles animais que se encontram na fase crônica. Destas drogas, a tetraciclina e seus derivados são mais amplamente empregados. A doxiciclina é a droga de eleição nos casos de pacientes que apresentam afecções renais. Corticosteróides também são indicados na preservação da integridade vascular ou da função plaquetária, principalmente na fase crônica. A resposta à terapia é avaliada através da melhora das condições do animal, tais como o retorno do apetite, melhora do comportamento e do quadro hematológico. É necessário que se faça uma boa prevenção, para se evitar a doença, principalmente no que diz respeito ao controle dos carrapatos, uma vez que este é o vetor do agente etiológico.

* Fonte: Erliquiose Canina – Revisão de Literatura, de José Geraldo Meirelles Palma Isola, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária, Universidade Estadual Paulista; Fabiano Antônio Cadioli,  Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista; Ana Paula Nakage, Centro Universitário Barão de Mauá. Publicado no número 18 da Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, em janeiro de 2012.

* Foto: Saudeanimal.com.

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