ONDE ESTÁ A CHANCE DO POBRE?

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TEXTO: EDITH GOMES DE DEUS MELLO (1980)

[…] O pobre é um problema social-religioso. É um ser humano e como tal deve ser tratado com justiça e merecer oportunidades como qualquer outra criatura.

A SOCIEDADE reconhece isso? Procura tirar o pobre da sua mediocridade? Procura promovê-lo? Não é isto o que se vê por aí.

Por exemplo, nos COLÉGIOS ESTADUAIS. Neles, o eterno problema DA SELEÇÃO. AS VAGAS¹ são poucas. Os candidatos são muito HETEROGÊNEOS. Estão inscritos candidatos ricos, remediados e pobres. As provas são aplicadas. Todas iguais para todos, é claro. Que acontece? OS RICOS E ALGUNS REMEDIADOS SÃO CLASSIFICADOS. PARA ONDE FORAM OS POBRES? Claro, para o abismo. É óbvio. O pobre não teve “padrinho forte”. Não teve os livros necessários. Mal conseguiu alguns caderninhos. O pobre é subnutrido e a gente sabe que a fome não deixa ninguém aprender. Um estômago roncando não deixa o cérebro pensar noutra coisa senão na comida. Como pode ele, nessas condições precárias, concorrer com os demais, os favorecidos pela sorte, que têm de tudo nas mãos, no estômago e por conseguinte na cabeça?

Pergunto eu: ISTO É JUSTO? É JUSTA UMA SELEÇÃO NOS COLÉGIOS ESTADUAIS CRIADOS PARA OS CARENTES E MAIS, SELEÇÃO COM UMA TURMA HETEROGÊNEA, DESNIVELADA?

ISTO NÃO É TIRAR A CHANCE DO POBRE?

Que os beneficiados pela fortuna estejam presentes às seleções. É um direito de competição que têm. Mas, não poderão competir com os carentes de tudo.

Vamos supor que num colégio estadual EXISTAM APENAS 100 VAGAS, para serem preenchidas. Eis a chance do pobre (se a diretoria quiser cooperar). Vamos dar 80% para os carentes. 20% para os que podem pagar colégios particulares. Não seria um pouco mais justa tal medida? Um pouco mais gratificante à nossa consciência cristã? Ademais agradaríamos a “gregos e troianos”…

O mesmo acontece com as BOLSAS DE ESTUDOS. Que sejam doadas apenas aos comprovadamente carentes. Que sejam INTEGRAIS. Nada pela metade porque o pobre não poderá nunca arcar com a outra metade. MEIA BOLSA serve para adoçar a boca do pobre para depois deixar-lhe um gosto amargo.

Tudo isto vem me preocupando muito.

E A VOCÊ?…

*1: Leia “Colégios e Vagas”, “Pagamento de Colégio Estadual 1”, “Pagamento de Colégio Estadual 2”.

* Fonte: Texto publicado na 1.ª edição da revista A Debulha, de 15 de maio de 1980, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.

* Foto: Empowernetwork.com.

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