NO CINEMA EM 1916

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TEXTO: JORNAL CIDADE DE PATOS (1916)

Por mais de uma vez, não como catões, mas com o direito que nos assiste de criticar o que nos parece em desaccordo com o bom tom, nos temos insurgido contra factos que se dão nas sessões cinematographicas.

Os actos praticados em uma reunião publica, como seja numa sessão de cinema¹, com ou sem annuencia de todos, representam para o observador estranho, o maior ou menor grau de civilisação e educação de um povo, em o meio do qual, ella se dá, por constituir um expoente dos seus costumes.

Ora, como parcella da sociedade patense não podemos ficar indiferentes, aquillo que possa contribuir para desmerecer o conceito a que temos direito.

Não se comprehende, como em uma reunião publica se converse tão alto, se dê gargalhadas exageradas, se faça commentarios que encommodem e perturbem os visinhos etc.

É natural que o espectador acompanhando o desenrolar da peça, partecipe das emoções da scena; que sorria, que chore mesmo, se assim o entender; que commente o enredo com o seu visinho, se é intimo; mas tudo isto com moderação, porque do contrario, alem de falta de compostura é intoleravel a falta de…

Ha cavalheiros que, apesar do pedido publico, em lettras garrafais, do proprietario para não fumarem, soltam baforadas de fumo que suffocam as senhoras.

Ultimamente observamos um habito que, alem de desagradavel é supinamente grotesco e ridiculo:

Quando na téla apresenta-se qualquer inscripção, parece aula primaria antiga, ou côro de terço em egreja, tudo lê a meia voz: só faltam os nossos amigos Professor Felippe ou João Ambrozio puxando a fieira.

Não se pense que somos intransigentes, que não queremos se levem creanças ao cinema, onde choram desesperadamente, ficam inquietas, a transar de um lado para outro, etc. etc. Não; comprehendemos que em attenção ao nosso meio, isto é toleravel; porque, não se fazem matinées para as creanças, ellas querem e é natural, se divertirem; não se encontram amas que se encarreguem de ficar com ellas, emquanto as Sras. vão ás sessões; logo, ou as Sras. não irão ao cinema, e as reuniões serão semsaboronas, tristes, ou levarão as creanças; e entre as duas hypotheses todos nós, naturalmente preferimos a ultima e aturar pequenada.

Tenham paciencia, isto, é até cavalheirismo, mas aquillo alem de não ser chic, é grosseiro e restaquero.

* 1: Em 1916 só existia, com sessões regulares, o Cine Magalhães do Cel. Arthur Thomaz de Magalhães, que funcionava onde hoje é a Rádio Clube de Patos.

* Fonte: Texto publicado na edição de 19 de março de 1916 do jornal Cidade de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Sortir.local.fr.

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