BORGES X MACIEL: A CRISE DE 1925 – 3

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Em 1925 houve uma tremenda divergência entre os Borges e os Maciel. Tudo começou quando o Jornal de Patos, dos Borges, acusou o Poder Público, dos Maciel, de terem desviado uma verba de trezentos contos de réis enviada pelo Governo de Minas ao Município de Patos para canalização de água e construção de escolas nos distritos de Santa Rita (hoje município de Presidente Olegário), Lagoa Formosa e Santana de Patos¹. Houve represália da situação e resposta jornalística da oposição através do Partido Popular². O clima esquentou de tal forma entre as partes que armas em punho sobrepujaram o bom senso. Enquanto os Maciel tinham o poder político, os Borges tinham o poder de um veículo de comunicação. Usando este veículo, na edição de 12 de julho de 1925 publicou nova matéria sobre o imbróglio, com o título Factos Consumados e assinada por Deiró Eunápio Borges, assim endereçada: ‘Aos Exmos. Dr. Mello Viana e Dr. Alencar Araripe. DD. Presidente e Chefe de Polícia do Estado de Minas:

Na história do Municipio de Patos, como indelevel borrão, hão de ficar gravados os acontecimentos desenrolados durante a semana de 21 a 28 de Junho de 1925.

Enquanto a 21 daquelle mez seguiam para São Braz, districto de Ponte Firme, a fim de organisarem alli o directorio do Partido Popular diversos membros do Partido, chefiados pelo seu presidente, aqui, sob o plano macabro de uma verdadeira chacina ás familias que encabeçaram o movimento politico que vem empolgando o município pela sua orientação honesta, de “objetivos nítidos, acção decisiva e clara”, dentro da lei e da ordem, eram tomadas pelo situacionismo medidas exterminadoras, fazendo convergir para esta Cidade homens de mão armada, pedindo ao Governo forças e alliciando gente nos districtos para um ataque aos Populares, sob o infame, baixo, vil e inacreditável pretexto de que a Camara Municipal ia ser deposta pelo partido de opposição fundado em 5 de outubro de 1924.

Tomados tão sinistros expedientes pelos proceres da situação em Patos, alarmando a sociedade em peso, que ignorava a causa do movimento bellicoso e o fim a que o mesmo se destinava, segue para S. Pedro da Ponte Firme o Cel. Farnesi Maciel levando homens armados e soldados da policia, alli pondo-se a frente de cerca de 40 carabineiros e marchando em seguida para S. Braz ao encontro de 14 homens do Popular, armados de instrumentos de musica e que alli se achavam para organisação de um directorio politico, entre homens simples e pacatos.

Constatada a veracidade do ataque a S. Braz, já por pessôas que assistiram a partida das tropas armadas, de S. Pedro, já pelo ultimatum transmitido aos Populares por pessoas amigas e já por emissarios do proprio Cel. Farnesi, á frente dos seus 40 homens, acampado a 1/2 legua de distancia, quiz a Providencia Divina que a nossa gloriosa retirada sustasse os planos de exterminio engendrados pelo situacionismo patense.

Analysados os factos, com a relativa calma, estudados os planos delineados, pesquisadas as medidas em acção, confrontados os boatos e ponderando sobre tudo quanto é do conhecimento publico e qualquer pessôa de mediana intelligencia num rapido lance de vista abrange, era diabolica e macabra a resolução do situacionismo, fazendo desapparecer do Municipio uma familia inteira e abafando no sangue o grito de independencia que o Povo de Patos fez echoar em todo Municipio.

Não resta a menor duvida de que os factos deviam se desenrolar da seguinte maneira:

Teria dito o situacionismo: pela voz de seus emissarios, nos districtos e aliciadores, no Municipio:

Propalemos (o que fizeram) que os populares vão depôr a Camara; convidemos nossos amigos para nossa defesa; telegraphemos ao Governo pedindo forças e garantia (o que fizeram e seria justo, si fosse exato e não uma infamia); ataquemos os populares em São Braz (o que fez o Cel. Farnesi), si no ataque em S. Braz for victimado o Cel. Farnesi eliminaremos, a titulo de desforra, os elementos daqui, para o que estamos preparados e elles completamente desprevenidos, visto ignorarem nosso plano; si o presidente do Popular for sacrificado, virão os dele, daqui, numa justa represalia tomar um desforço, mas nos encontrarão rodeados de homens armados e serão sacrificados pelo numero e pela força.

Si do encontro só si verificar a fuga ou humilhação do Popular com seu presidente, aqui chegando, de volta, naturalmente instigados pelo Chefe humilhado procurarão tirar a revanche e ainda nesta 3.ª hypothese esmagal-os-emos e, ficarà acobertado nosso plano com a noticia por nós propalada de que iamos ser atacados.

Como se vê e deprehende, em qualquer dos tres casos ficaria de pé, ao menos apparentemente – a perfidia de que seriam os do Popular os atacantes. Não se verificando nenhuma delas, aquartelaram-se de armas em punho esperando que o Governo mandasse forças para serem dirigidas pelo Cap. Feliciano e então como declarou o Sr. Octaviano Bernardes, pessôa insuspeita para o situacionismo, ser executado o ataque á typographia e aos elementos populares.

São estes os planos dos homens –

Os da Divina Providencia, porem, foram outros, impedindo que se realizasse o massacre de homens indefesos, cujo crime unico è o exercicio de um direito na propaganda de uma causa nobre, elevada e digna.

O grito dos humildes, dos pequenos, dos que sofrem no municipio de Patos debaixo do guante de injustiça e prepotencia exercidos ha longos annos pelos detentores do poder, não podendo ser abafado na consciencia de quasi 70000 habitantes com argumentos fornecidos pela Lei e pelo Direito, devia sel-o pelas armas, com o sangue daquelles que se puzeram a frente da emancipação municipal –

Aquelle aquem invocamos no dia de nossa organisação politica e que tem sido nosso guia, caminho e vida em nossas jornadas pelo Municipio, ha de fazer voltarem-se contra nossos adversarios as armas perfidiosas que em ciladas nos prepararem e, quando cahir eu, traiçoeiramente embora, como promettem os cahidos da opinião publica, sobre meu cadaver ha de tremular , intacta e gloriosa a bandeira do Partido Popular de Patos!

Nesse dia, como na semana de 21 a 28 de Junho, nunca o Partido terà subido tanto como tanto terão descido os adversarios, perante a consciencia do Municipio, do Estado e da Nação.

Si Deus comnosco, quem contra nós?

Avante companheiros!

“Para deante e para cima”.

Deiró E. Borges.

* 1: Leia “Borges x Maciel: A Crise de 1925 – 1”.

* 2: Leia “Borges x Maciel: A Crise de 1925 – 2”.

* Fonte: Jornal de Patos, do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Ultradownlods.com.

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