COISA DE PRETO!

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TEXTO: RAFAEL GOMES DE ALMEIDA (1977)

Não, se assustem! Eu tenho pavor de preconceitos, principalmente o racial. Esta coluna não foi criada com intenção de ser “ante”, mas tem o objetivo, ainda que não atingido, de construir.

Na construção, entram as críticas, como igualmente, necessários se fazem os aplausos.

O meu querido afilhado, Antônio Basílio Leal, o Antônio do Prego, enviou uma proposição para se criar as feiras livres em Patos.

A Câmara, como era de se esperar, fez coro com o bom crioulo e dentro de pouco tempo deveremos estar com a feira livre em nossa terra.

Pode até que não se atinja o objetivo no começo, mas pelo menos, o primeiro passo foi dado. Agora, vamos fazer força para que seja uma feira livre no amplo sentido da palavra, aproximando não somente o meio rurícola da classe consumidora, mas dando expansão ao artesanato.

Podemos ir mais longe ainda. Nos quintais de maior área, poderemos substituir os chiqueiros malcheirosos, por hortas que servirão para o consumo de seu dono e poderão ser negociadas na própria feira.

Os nossos jovens que manifestem propensão artística poderão se ocupar a semana inteira, fazendo chinelos, fazendo carrinhos, ou seja lá o que for, para ser vendido em nossa praça. Isto vai provocar um estímulo muito grande em nossa juventude, tão ávida de serviço e tão cansada de procurar emprego.

Eu lhes confesso que, quando vou criticar, ainda que construtivamente, eu sinto as mãos pesadas porque o cérebro exige muito e o coração dimensiona a força do calar.

Mas hoje, eu sinto o coração bater nas mãos, como se as teclas da máquina de escrever fossem sangue que compassa o bater do coração.

É isto aí. O Antônio do Prego está tentando criar um mercado de trabalho em nossa cidade. O povo deve prestigiar. Somente, quem estudou com muito sacrifício, é capaz de entender a intenção do vereador preto por fora e branco por dentro. Alma branca que não foi alvejada com nenhum sabão em pó. É branca porque é sofrida. É sofrida e não teve revolta. É gente do povo e conhece o desejo do povo.

No entanto, meu caro Antônio do Prego, é preciso que nós entendamos que sua ideia de nada valeria se você não contasse com o apoio de seus colegas de Câmara. Por isso eu posso afirmar que a cidade está em festa, porque está havendo inovação.

Pode acontecer que amanhã eu seja obrigado a criticar a sua conduta na Câmara. Não tenho compromissos nem com partidos, nem com políticos. Tenho, isto sim, compromisso com esta terra e com esta gente.

Que as minhas palavras sejam um incentivo, mas que sejam também uma forma de aumentar a responsabilidade de nosso legislativo. É muito melhor escrever aplaudindo, honestamente, que criticar com honestidade. Quisera que o mundo fosse só perfeição, mas somos forçados a conhecer a nossa limitação humana.

Pode acontecer que eu perca ponto no “Ibope”, porque a galera em todo mundo, fica torcendo para a desgraça alheia em seguida vai estender a mão para a ajuda.

Mas, se a Câmara continuar inovando, as vaias das ruas vão se calar, porque são poucos os que vaiam e os que aplaudem em casa, e são tantos os que aplaudem, sairão para as ruas para prestar homenagens às iniciativas de nossos homens públicos.

Não se descuidem, no entanto, porque se houver um cochilar ou um negligenciar, aí então as eleições irão mostrar que precisa mudar tudo, ainda que seja preciso começar tudo de novo.

Tem muito sangue novo entrando nesta terra. Gente que quer coragem e não valentia, mas que entende que só pode reclamar de coragem os corajosos, porque senão os valentes tomam conta de nossa terra.

Aí será o fim da picada.

* Fonte: Texto publicado na Coluna “Da Minha Fazenda Grande” da edição de 03 de dezembro de 1977 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: agoraalminoafonsoinforma.blogspot.com.

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