BORGES X MACIEL: A CRISE DE 1925 – 4

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Passaram-se já, felizmente, aquelles tristes dias, aquelles momentos em que nossa terra, – graças a uma concentração, aqui, de homens armados para a execução de um plano perverso, friamente premeditado, – se achou perturbada na sua tranquillidade de cidade civilizada.

Não contentes com a acção elevada e patriota do P. Popular neste Municipio, os nossos adversarios, ao invez de nos rebaterem no terreno licito do Direito e da Lei, atiraram-se por um rumo differente, em que o principal argumento seria o bacamarte.

Para desviarem a rota serena que vamos palmilhando, não quizeram até hoje nos responder pela imprensa, nem se valerem da lei que cohibe os excessos na expressão do pensamento, mas lançaram mão de recursos selvagens, architectando contra nós, homens pacificos e honestos, um plano diabolico, sob o infame pretexto de que o P. Popular quiz atacar a Camara municipal (!) e incendiar a Collectoria estadual (!)

Defendendo com ardor e energia os nossos ideaes de patriotismo, não suppunhamos nunca que nossos adversarios, tripudiando sobre os eternos principios da caridade christã, tentassem escurecer a luz da verdade com meios barbaros e indignos de homens que se dizem cultos.

Repercutiu em todo o Estado de Minas este feio gesto dos mentores do P. R. Mineiro de Patos, recorrendo á carabina para fazerem calar aos homens independentes desta terra, que, longe de serem perturbadores da ordem publica, apenas exercem um direito assegurado pela Constituição, batendo-se pelo regimen da responsabilidade na administração do Municipio.

Si ha algum crime nisto, é este o nosso crime.

Queremos que haja, aqui, Justiça. Nada Mais. Não nos seduzem as posições de mando.

O que desejamos, e desejamos com toda nossa energia, com todos nossos sentimentos, é que o povo de nossa terra tenha um santo orgulho em habital-a, vendo-a administrada com desprendimento, com carinho, com patriotismo.

O nosso jornal, que é a maior força de propaganda do glorioso Partido Popular, não hontem, atè hoje, a minima accusação à vida particular de quem quer que seja, por isso que a nós nos repugna, pela nossa educação moldada nos principios da philosophia catholica, o desnudamento das fraquezas de nosso semelhante.

Verdade é que, analysando os actos da administração publica, temos sidos intransigentes em mostrar ao povo e ao governo a inercia e o impatriotismo dos responsaveis pelos destinos do Municipio.

Até ahi, porém, nada mais natural. Os homens publicos de Patos não são differentes dos homens publicos de todo o mundo.

Elles não são differentes, por exemplo, dos presidentes de Republica no Brasil, os quaes têm recebido, como o actual, as mais severas accusações quanto ao que é attinente á administração.

E todos elles dão amplas satisfações ao povo, defendendo seus actos administrativos. Ainda agora o ex-presidente Dr. Epitacio Pessôa publicou um volumoso livro – “Pela Verdade”, refutando aquelles que o criticaram e criticam como tendo sido um pessimo gestor dos negocios publicos, no quatrienio passado.

É pena que este exemplo não seja imitado pelos detentores da politica municipal em Patos. Quando lhes pedimos uma satisfação do que têm feito, indagando-lhes das rendas e empréstimos municipaes, elles, não hesitaram em enxovalhar a historia deste Municipio, premeditando contra o Partido Popular, que é o partido do povo, a mais indigna das ciladas, fazendo-nos passar como incendiários e como elementos contrarios á manutenção da ordem social.

Felizmente, desmascararam-se todos.

Não lhes valeu o terem engendrado contra nòs calumnia tão vil e repelente.

Si pensaram, com isto, subir ante o conceito do povo e do governo, enganaram-se redondamente, porquanto passaram a merecer, d’agora em deante, a repulsa formal de todo homem honesto, de todo homem que tenha sua consciencia voltada para Deus.

Aos nossos amigos e correligionarios cumpre-nos dizer que devemos combater mais ardorosamente pela vitoria dos nossos ideaes politicos.

É nobilissima e sagrada a causa que defendemos. Lutar por ella è lutar pela justiça.

E lembremo-nos que o Divino Mestre, que é a nossa suprema esperança e o nosso supremo ideal, disse, um dia, no sublime sermão da montanha, estas palavras de eterna belleza:

“Bemaventurados os que têm sede de justiça porque elles serão fartos”.

Elle não teve uma bem-aventurança para aquelles que vivem a cuidar somente dos seus interesses, indifferente à injustiça e sem a coragem de um protesto franco contra a calumnia, contra a mentira e contra o erro.

Elle não teve uma bem-aventurança para aquelles que, sem a franqueza bastante para proclamarem seu amor à Verdade, concorrem, ora com sua neutralidade, ora com sua criminosa colaboração afim de que homens sem escrupulos dêm expansão a seus sentimentos de rancor e despeito.

Não! Jesus Christo, o Filho de Deus vivo, disse com sua eloquencia divina e com toda a simplicidade do seu discurso: Bemaventurados os que padecem perseguição por amor á justiça, porque delles é o reino dos céus.

F.S.

* Fonte: Texto publicado com o título “Pela Justiça” na edição de 19 de julho de 1925 do Jornal de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Segurancamonitoramento.org.

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