NÓS, OS MORADORES DO EDIFÍCIO PARANAÍBA

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0TEXTO: EDITH GOMES DE DEUS (1956)

Oito horas da manhã!

Já há muito que nossa cidade despertou-se do seu monótono sono! Patos de Minas deixa o silêncio da madrugada para entrar em a sua costumeira atividade.

Também nós, criaturas que trabalham, abandonamos com pesar a cama gostosa, macia, indo à caminho do escritório, da fábrica, do comércio, onde se acha o nosso trabalho.

Também eu, como quasi tôdas as môças patenses, tenho o meu trabalho fóra do lar.

Quando o gigantesco relógio da majestosa Catedral deixa no espaço a última badalada das oito horas, subo lentamente os vinte e um degraus da escada do Edifício Paranaíba à procura do escritório do Deodato, onde trabalho. Após ter dado o habitual “bom dia”, mergulho a cabeça em os pesados livros de Contabilidade.

Mas, mesmo trabalhando, não perco o movimento daquêle corredor do já referido Edifício e, fico a par do que se passa nas salas vizinhas. (Não que eu seja bisbilhoteira mas, porque todo o mundo tem o costume de falar um tanto alto).

Vejo quando o Fernando Dannemann, esforçado redator dêsse querido Jornal¹, chega todo atarefado e, quasi a correr localisa o escritório do sr. Acácio, contador distinto, muito alegre, comunicativo e, um bom vizinho que tenho.

Observo as sras. e srtas. que procuram animadamente o Salão Marabá para o maior embelezamento de seu cabêlo e de sua cutis.

Para descanso meu ouço atentamente as melodiosas canções nas vozes magníficas dos “Irmãos Braga”, tenores absolutos da Alfaiataria do J. Euzébio.

Aprecio as gesticulações do Antonio Pinheiro, que com passadas gigantes aparece em o nosso escritório, atarefado, queixoso da vida e, decepcionado por não ter ganho na loteria.

Para rematar êste ato de variedades com chave “folheada a ouro”, um desafinado violão se faz ouvir e, no espaço ecôa a voz de um “Carlos Ramirez” ou de um “Caruso” na sua estonteante “Granada” que no fim acaba se explodindo…

Tudo isso concorre para alegrar o nosso ambiente e suavizar o nosso trabalho.

Não me canso de observar êsse movimento e, tôdas às vêzes, todos os dias, uma estranha melancolia me invade quando penso que, muito breve não procurarei mais o meu trabalho, o meu escritório e, não apreciarei tão de perto aquele movimento interessante.

Pensando nisso uma antecipada saudade devora paulatinamente todo o meu sêr.

* 1: Leia “Capa do 1.º Número do Jornal Tribuna de Patos – 2.ª Fase” e “Tribuna de Patos”.

* Fonte: Texto publicado na edição na edição de 15 de janeiro de 1956 do jornal Tribuna de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 12 de março de 2013 com o título “Edifício Paranaíba nos Idos 1940/1950”.

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