I ENCONTRÃO-CANTAR NA PRAÇA – ENTREVISTA

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A proposta é ótima: conseguir para Patos de Minas, uma casa de cultura onde possamos abrigar todo nosso potencial artístico; resgatar a memória cultural da cidade, conscientizar tanto autoridades como a população de que uma cidade com o porte cultural de Patos necessita ser questionada com mais atenção e carinho, afinal estamos em 14.º lugar dentro do Estado.

Já estamos conscientes de que a coisa vai funcionar e mais ainda, com um brilho total, pois a Comissão está desempenhando bem o papel a que se propos.

O “Encontrão” seria realizado dia 18 de abril – sábado de Aleluia, mas, em respeito às solenidades da Igreja, que neste dia fará realizar uma procissão do silêncio, exatamente às 18 horas, horário em que iria ter início o show musical da noite, ficou resolvido que o Encontrão será realizado dia 19, domingo, no mesmo local e com as mesmas atividades. Aguardamos portanto a presença do público.

Numa entrevista realizada com membros da Comissão: Xaulim (Carlos Alberto Rodrigues – patense residente em BH), Nelson Messias de Morais (Presidente da CEP), Gilmar (integrante do Grupo Canto Chão) e Wilson Morais (Patense residente em Brasília); fica claramente demonstrada a certeza de que o Encontrão será a maior movimentação artístico-cultural já realizada em Patos, e mais ainda, uma luta séria por uma causa nobre: a CASA DE CULTURA.

A maioria do pessoal já está sabendo através de outras informações já publicadas em A DEBULHA, mas gostaria que vocês esclarecessem o que vem a ser o “ENCONTRÃO – CANTAR NA PRAÇA”.

NÉLSON MORAIS – Bom, o “ENCONTRÃO-CANTAR NA PRAÇA”, é uma atividade cultural que podemos considerar como o embrião da Casa de Cultura. O Encontrão será dividido em três partes: manhã, tarde e noite. Na parte da manhã serão realizados shows para crianças e à tarde exposições, feira de arte, etc., à noite show artístico musical, teatral e algumas coisas mais. O Encontrão é uma promoção da Comissão Pró-Casa de Cultura e pode-se dizer que será a programação gigante de 1981. A turma está muito entusiasmada. Será dia 18 de abril (sábado), sendo que quase tudo já está fechado. O local será a Praça Dom Eduardo no “cruzeiro” que é um monumento histórico de Patos. Teremos barracas para exposição, barracas para venda de bebidas e comidas típicas e coisas mais.

WILSON MORAIS – A parte da manhã será basicamente para atividades infanto-juvenis. E por falar em parte da manhã ressaltamos também a alvorada que será às 5 horas, quando as duas bandas de Patos, a Lira Mariana e a do 15.º Batalhão sairiam de pontos diferentes e se encontrariam no centro, ou seja na Praça Dom Eduardo. Logo após, por volta das 8:30 ou 9 horas começariam as atividades para crianças que consistem em: apresentação de um teatro de bonecos, que seria fantoche/boneco, que a gente chamaria assim de uma atividade de arte mais ou menos inédito em Patos, eu particularmente nunca ouvi falar de teatrinho de bonecos em Patos, a não ser em alguns circos que aparecem por aqui, acredito que deverá ser uma atividade bastante interessante. Depois vai haver atividades com palhaços e juntamente com eles haverá um show musical para crianças, com músicas de folclore, cantigas de roda, cirandas, etc. Depois para encerrar a gente pretende fazer uma atividade criativa com as crianças. Seriam exercícios de criatividade que consistiria por exemplo em matéria tipo sucata, inclusive quem quiser levar material de sucata, etc. para ajudar, pode levar para a gente botar a criançada para trabalhar. Trabalhar com tinta, pintando o chão, papel, pintar o que pintar, ou seja, pintar o sete. Nisto consistiria, basicamente as atividades para crianças. Ah! Inclusive a gente pretende levar algumas balinhas, chocolates, balões… A pretensão é que o show para as crianças dure até às 11 horas ou meio dia. Então de uma hora em diante, após um intervalo para o pessoal comer alguma coisa, começaria a exposição.

GILMAR – Já a parte da tarde será mais dedicada às exposições em geral. Por exemplo: artesanato, pintura, arquivos históricos das entidades culturais de Patos. Também estaria funcionando (desde cedo) a barraca com bebidas, comidas típicas, salgados etc. Esta exposição ocuparia a tarde toda, até mais ou menos às 17 horas, então neste período só haveria este tipo de trabalho. Aliás, para os expositores que desejarem participar, as inscrições podem ser feitas com a Mônica na Prefeitura; haverá stands, onde serão colocados todos os trabalhos.

Quer dizer que durante todo o dia não faltarão atividades ali na praça e o pessoal terá como se arranjar?

GILMAR – Sim. Não faltarão atividades, somente nos intervalos de 12 às 13 e 17 às 18 horas, mas nestes intervalos o barzinho estará sempre aberto.

WILSON – Inclusive a gente acredita que haverá participações externas, assim como músicos, artesões e nestes intervalos que estamos pensando, haverá gente cantando na praça. Aliás, temos certeza, sinceramente, que nesta praça não haverá nenhum minuto de “vazio”. E o pessoal que lá comparecer pode ir preparando para ficar o dia inteiro, das cinco horas do dia 18 às 5 horas do dia 19.

GILMAR – Depois, pelas 18 horas começará o show da noite.

E estas barracas com exposição de quadros, artesanato, etc., ficarão funcionando à noite também?

Não. Isso não só será possível porque iremos apagar as luzes de toda a praça, ficando iluminado apenas o palco.

A praça irá ser toda interditada?

XAULIM – Sim, será interditada na sexta-feira depois da procissão, e no sábado não haverá circulação de automóveis, ficando desimpedida somente a última rua da praça, a Rua Alfredo Borges.

E como será o show da noite?

XAULIM – O show da noite seria assim o desaguadouro de todas estas atividades. Não só porque seria a atividade mais importante, mas porque é a que tem sido desenvolvida com maior constância em Patos de Minas e onde há assim um número maior de pessoas lidando com os trabalhos e que tem mostrado estes trabalhos. Não que não haja pessoas lidando nas outras atividades, mas é que o pessoal ainda está mais embutido, não desabrochou ainda. Estamos planejando começar ali pelas seis horas, devido ao grande número de pessoas inscritas. E outra coisa que a gente está tendo é o caráter profissional neste Encontrão, não só no show da noite mas em todas as outras atividades desenvolvidas ali na praça. É que os “meninos” de Patos estão fazendo uma coisa para ser um marco, a arrancada inicial em favor da Casa de Cultura.

Mas qual seria basicamente o objetivo real do Encontrão, a não ser a luta pela Casa de Cultura?

XAULIM – A proposta inicial do Encontrão é de mostrar o alto potencial artístico que nós temos em Patos e na região. Agora, era preciso que isto tivesse uma repercussão maior, uma bandeira maior que é a Casa de Cultura. E por isso foi criada esta Comissão, que é formada pelas entidades de Patos, que estão atuando nesta área de cultura e algumas pessoas que também trabalham isoladamente. No caso seria: CCRB – GRUTA – CET – CEP, os grupos de música, o Departamento de Educação e Cultura e o Projeto Palco Móvel. Esta Comissão é provisória e não existe uma hierarquia e sim um agrupamento de pessoas e entidades que estão fazendo a luta do dia-a-dia pela cultura de Patos de Minas e que vão continuar lutando, com um peso maior, com um novo ânimo. O importante não é a Comissão, que o Encontrão também é para as pessoas e a população de uma maneira geral encampe esta luta, que não fique só a nível de entidades, que fique a nível de população, de sentir que realmente estamos precisando de uma Casa de Cultura; porque potencial para isto, a gente tem demais!

GILMAR – E a preocupação que a gente tem também é visar, como o Projeto Palco Móvel, a aproximação do pessoal dos bairros que está um pouco distanciado. Então queremos fazer uma coisa que o pessoal dos bairros também participe mesmo e possa ter um entrosamento bem popular. Que não seja só uma elite, por isto escolhemos a Praça Dom Eduardo, por ser bem no centro de Patos, onde possamos reunir toda a população da cidade.

A idéia é de se realizar só este Encontrão, ou virão outros?

WILSON – A gente acredita que pela estrutura que estamos usando, uma estrutura até certo ponto ousada, e como disse o Xaulim, estamos montando a nível profissional e então esse Encontrão, além da convergência de toda arte, ou seja, uma explosão, também tenta canalizar pela Casa de Cultura, que é uma necessidade premente na cidade. Acreditamos que com esta estrutura, este Encontrão irá permanecer e passar a ser um patrimônio cultural da cidade.

GILMAR – E também não é divulgar só na nossa região, mas em Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, levar isso a nível nacional. Seria como um ponto turístico para Patos, mesmo porque como isto só temos a Festa do Milho.

WILSON – E que seria um ponto turístico que acreditamos, bem forte, uma vez que ele poderia até se colocar com o caráter de valorizar muito mais a arte que cada pessoa tem, porque o processo de aculturação geralmente emitido pelo sistema Globo de televisão tem feito com que as pessoas até mesmo neguem suas raízes. Então, esse Encontrão visa justamente isto: o reforço para a raiz de cada pessoa, que sinta o real valor dessa que é a sua cultura.

XAULIM – Complementando aí, acho importante esse ponto que o Wilson colocou, dessa aculturação. De certa forma seria um resgate cultural da memória da cidade, no caso é o que está simbolizado pela homenagem ao Joaquim do Fubá, por ter sido uma pessoa que quase sempre era ridicularizada e ironizada por um grande número de pessoas, mas que tinha o seu valor cultural e como ele existem muitas outras pessoas. Então é este um dos objetivos do Encontrão, resgatar a memória cultural de Patos.

Ficou prevista a vinda do Tavinho Moura, Tino Gomes e outros. Como é, ainda vão vir ou não houve jeito?

XAULIM – A proposta da gente foi de justamente criar um intercâmbio maior, porque eu particularmente, acho que não existe denominação de movimento que se possa falar música popular patense, isto não existe, acho que existe a música popular brasileira feita em Patos de Minas. Então estamos tentando levar essa música popular brasileira, feita em Patos de Minas, para o maior número de pessoas e ao mesmo tempo trazer experiências, dizer da nossa experiência e ao mesmo tempo saber da experiência deles. Então sugerimos que Tavinho Moura e Tino Gomes que são pessoas que têm um trabalho consistente, de pesquisa, de resgate de folclore, estando portanto dentro da proposta do Encontrão. Já foram feitos vários contatos e estão quase que confirmadas as suas presenças em Patos de Minas.

Os livros que vão ser vendidos lá na praça, serão só de autores patenses ou terão outros?

GILMAR – Vamos tentar pegar os livros já lançados dentro de Patos, Altino Caixeta, Wilson Pereira, Oliveira Mello, Jorge Braga, Kleber Lima, Chico Preto e uma porrada de gente que está aí esparramada. Então vamos ver se conseguimos.

XAULIM – Também o Carlos Herculano que não é patense, mas é uma pessoa que está participando aí, está sendo o porta voz, no jornal “Estado de Minas”, das coisas que estão acontecendo em Patos, a nível de movimento cultural.

GILMAR – Além disso vamos colocar discos a venda, como é o caso do Luiz Carlos Esteves que está lançando um disco no Rio, Osmano e Manito, Tino Gomes, Grupo Raízes, Dércio Marques, Tavinho Moura, etc.

WILSON – São discos que a máquina de comunicação implantada aí não tem se preocupado em divulgar, muito embora sejam trabalhos que estejam comprometidos com as raízes culturais da música neste país, mas que ficam praticamente no anonimato. Isto será na parte da tarde, mas que poderá se estender até à noite, e vamos vender camisetas, cartazes, adesivos quem quiser comprar, tudo bem, estamos lá.

Qual o caráter político do Encontrão?

WILSON – O caráter político do Encontrão, a gente já disse e repetiu. Primeiro resgatar a memória cultural da cidade. Segundo canalizar esforços para uma Casa de Cultura. O Encontrão é apartidário, mas não é apolítico. Tanto é que nós conseguimos com a Empresa Gontijo, através do Oswaldo Amorim, o patrocínio de 50% dos gastos com o Encontrão.

Já que vai se vender algumas coisas, logicamente haverá lucros. Como serão administrados os lucros e para que serão destinados?

XAULIM – Como dissemos no início, estamos usando uma estrutura profissional, e isto dá uma despesa muito grande. Esperamos cobri-la, conforme projeto através de 50 por cento de patrocínio da Empresa Gontijo e o restante deverá ser conseguido através da venda de camisetas, cartazes e adesivos, além de uma comissão que teremos na venda de discos, livros e as porcentagens nas vendas que forem realizadas pelos expositores. Esta arrecadação ficará para o fundo Pró-Casa de Cultura, se conseguirmos cobrir as despesas gerais do Encontrão. Teremos também a renda da barraca de bebidas e salgados.

* Fonte: Entrevista publicada na coluna “Sem Fronteiras”, do n.º 22 da revista A Debulha de 15 de abril de 1981, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.

* Foto: Parte do cartaz informativo do “I Encontrão – Cantar na Praça”, do arquivo de Gilmar Ribeiro de Castro.

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