COMISSÃO PRÓ-CASA DE CULTURA X FENAMILHO/1981: NÃO HOUVE ACORDO

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Como acontece todos os anos, esperamos ansiosos pela realização da “Festa Nacional do Milho”. A expectativa em torno do que poderá acontecer, quais as atividades que serão realizadas, quais os cantores que virão e quais serão as candidatas. E, quando chega, a abrigamos com toda euforia.

Mas acontece que a coisa andou ficando tão monótona, tão rotineira, tão decaída, que já sabemos “de cor e salteado” a programação, antes mesmo dela ser divulgada.

Os cantores serão do mesmo nível, quer dizer, péssimos; que se disporão a “dublar” num gravador de rotação estragada. Os desfiles perderam aquele vigor, aquela pompa de anos atrás, onde a atração máxima era assistir a este desfile que nos brindava com trajes típicos, fanfarras e muita alegria. Realmente uma atração folclórica de grande valor. O que restou de bom no desfile foram os carros alegóricos trabalhados pelas mágicas mãos do artista Vicente Nepomuceno.

Mas…

Este ano a coisa mudou de figura. Os organizadores da Festa, que sempre reclamavam que todo mundo “metia o pau”, mas ninguém dava soluções para que a coisa fosse remodelada, abriram as portas de sua sala de reuniões, a todos que se propusessem a dar sugestões.

Daí, foi formada uma comissão com elementos de várias entidades que estão batalhando pelo reconhecimento da cultura patense que se dirigiu à sede do Sindicato Rural, onde se realizam as reuniões.

Fomos bem recebidos, apenas aparentemente, pois, não seria possível que um simples grupo de jovens, conseguisse dar nova forma a uma estrutura que já é sólida, contendo apenas “pequenas falhas”!

Logo que começou a reunião, os organizadores abriram espaço para que os visitantes expusessem suas idéias dando uma visão ampla e geral do que poderia ser feito.

Partindo do princípio que a Festa é de Patos, e, com repercussão nacional, porque não divulgar coisas da terra – folclore, arte e cultura –, dando chance aos novos valores, para que eles se projetassem e tivessem condições morais e financeiras para se colocarem melhor dentro do cenário artístico nacional? Além disto, que os cantores que aqui viessem se apresentar fossem de nível mais elevado, o que não deixaria de agradar a “gregos e troianos”. Se a festa é do povo, porque não agradar a esse povo, que já anda cansado de ser enganado?

Nossa proposta, que os grupos CANTO CHÃO, BANDA, JOAQUIM DO FUBÁ, DALLA, ANÍSIO, CLARETE E GRUTA, se apresentassem no Parque de Exposições durante as comemorações da Festa e que fosse pago a cada um a quantia mínima de Cr$ 20.000,00, para cobrir gastos e compras de instrumentos; totalizando uma quantia de Cr$ 140.000,00. Fomos quase que prensados a abaixar o preço, que os organizadores consideraram “quantia bastante vultosa” e como eles mesmos disseram: “estes grupos se apresentam em praça pública e não cobram um centavo!” Diante de tal oportunismo e tamanha desconsideração, achamos que não seria vantajosa a idéia de aceitarmos aquelas condições propostas pelos organizadores.

Diante disto, eles nos deixaram “plantados” na sala de reuniões e saíram para outro recinto e fizeram uma “reunião de cúpula”, deixando-nos totalmente isolados. Voltaram com uma resolução: nos dariam oportunidade de divulgar a cultura, a arte e o potencial artístico patense, mas pagariam apenas Cr$ 10.000,00 a cada grupo.

Diante desta situação, decidimos não apresentar nada, restando somente o descontentamento de não podermos divulgar Patos de Minas.

É isso aí, minha gente, eles preferem pagar a um cantor de fora que cobra caro e saia “curtindo” com a cara do patense, pensando que aceitamos de mãos beijadas qualquer “porcaria” que chegue por aqui.

Ainda tentamos influenciar na escolha dos cantores contratados, sugerindo nomes como Sá e Guarabira, Ednardo, Renato Teixeira, Dércio Marques ou Ivan Lins, pois, ano passado, só houve de bom na Festa o show da Simone e que nem constava do programa oficial. “Estudaram” a idéia, e com a intervenção do José Afonso e do Patrício que conhecem o valioso trabalho folclórico de Dércio Marques, vamos tê-lo como presença marcante na Festa.

Para eles que parece não conhecer os nossos valores artísticos, espero que tenham aproveitado bem o I ENCONTRÃO-CANTAR NA PRAÇA e possam ter constatado que realmente saíram perdendo. Afinal de contas ali se reuniu com muita garra e força devontade o que há de melhor em Patos de Minas no campo cultural. Esperamos também que reconsiderem e que no próximo ano tenham um pouquinho mais de consideração, pois ninguém quer trabalhar de graça enquanto outros ganham dinheiro, facilmente.

* Fonte: Texto publicado na coluna “Sem Fronteiras” da revista A Debulha com o título “… E Os Meninos Não Foram Ajudados…”, em seu n.º 23 de 30 de abril de 1981, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.

* Foto: Blogdowilsonfilho.blogspot.com.

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