OSWALDO GUIMARÃES AMORIM NA ETERNIDADE

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OSWALDO AMORIMTudo foi muito depressa. De uma hora para outra Oswaldo Amorim, fisicamente, envelheceu. Aquela jovialidade facial enganava a idade que carregava. O espírito, no entanto, continuava jovem. Sonhando sempre com uma Patos de Minas cada dia mais grandiosa. Esquecia-se de si mesmo e vivia preocupado com o outro.

Na sua teimosia de sonhador, como era visto, levantou uma porção de sugestões que se diziam impossíveis de realização. A maioria delas, porém, senão todas, foram concretizadas. Os que as realizaram, porém, não admitiam, ou fingiam que não sabiam terem sido por ele sugeridas. Os seus sonhos não eram utopias, mas visões de quem se encontrava muito à frente dos homens de seu tempo. Quanta coisa ele sonhou e não se realizou porque os mandatários da terra não acreditaram nele ou então não tiveram a capacidade de atingir os seus sonhos.

Entre muitos, basta citar a Avenida JK. Foi logo depois de inaugurada a nossa primeira estrada de asfalto, a BR-354, popularmente conhecida como Rodovia do Milho. Nem conhecida ainda era como Avenida JK, mas como início da sonhada Rodovia, cujo quilômetro zero estava fincado ali, no final da Major Gote. Desde então, ele a previa, se não tomassem os devidos cuidados, como um corredor. Foi até ao seu amigo, Prof. Radamés Teixeira, urbanista respeitado, professor da Escola de Arquitetura da UFMG, e dele solicitou um estudo para evitar a sua previsão. O Prof. Radamés atendeu ao pedido do amigo. Oswaldo o trouxe a Patos de Minas para ver a situação in re, antes da instalação dos novos bairros margeando-a. Não lhe deram ouvido, nem importância ao estudo elaborado pelo urbanista Radamés. Talvez achassem que a cidade não andasse ao lado da Rodovia recém-inaugurada. Mas ela andou, e muito rapidamente. A Rodovia foi transformada em Avenida, tornando-se, de fato, num imenso corredor.

E a urbanização da Lagoa Grande? Quem primeiro sugeriu? E o alerta para a Prefeitura não permitir loteamento margeando o Córrego do Monjolo, nas proximidades do Paranaíba, no hoje conhecido Bairro Jardim Paulistano? As enchentes, como bem previu o “sonhador”, vieram, cobriram casas e criaram inúmeros problemas sociais para as administrações futuras¹.

E a Universidade, que caminha a passos rápidos, foi a previsão de Oswaldo que, quando candidato a deputado federal adotou o slogam: “Oswaldo é a Universidade”. Um alerta aos eleitores, se eleito, tudo faria para que não houvesse apenas uma Fafipa, mas uma Universidade em Patos de Minas. Ele sonhou e ainda pôde ver o seu sonho realizado, apesar de não ter sido eleito. Foi para a eternidade poucos dias antes da instalação do Centro Universitário.

No seu sonho, acreditou, desde a primeira Festa do Milho, em 1959, em sua continuidade. Tanto acreditou que, neste mesmo ano, levou ao Brasil, através de um Suplemento de edição nacional, da “Tribuna da Imprensa”, a capacidade criadora do povo de sua terra. Dentro de mais algum tempo, voltou, através das páginas da revista “O Cruzeiro”, com ilustrações coloridas, a mostrar aos brasileiros que a festa tinha vindo para ficar e enriquecer o calendário turístico do Estado e do próprio País. Já se prepara para a realização da 44.ª Festa.

O “Patense Desvairado”, como gostava de ser chamado, procurava todos os meios de sempre estar mostrando as potencialidades de Patos de Minas e a capacidade de trabalho de sua gente. Muitos dos seus conterrâneos o taxavam de visionário, mas sempre andando pelos caminhos de seus sonhos, transformando-os em realidade. E, quando não os seguiam, como os cuidados com a Avenida JK, como o loteamento à beira do Córrego, passaram a ter problemas e muito sérios.

O “visionário” se foi. Justamente quando sentia que todos os horizontes lhe estavam sendo fechados. Justamente nesse instante, Deus abriu-lhe o amplo horizonte da eternidade. Foi serenamente, sem um gemido, nem um ai de lamúria ou de ressentimento, numa bonita tarde de 15 de agosto. Foi como viveu, tranquilo, esquecido de si mesmo, com a certeza de que não só o impossível é digno de ser sonhado.

* 1: Leia “Pequeno Tratado Sobre as Enchentes do Paranaíba”.

* Fonte: Texto de Oliveira Mello publicado com o título “Oswaldo, na Eternidade” na edição de 18 de agosto de 2001 do jornal Folha Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do livro Oswaldo Amorim-Queixa ao Bispo.

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