SEX SHOW GÊNESE

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grutaTEXTO: RICARDO RODRIGUES MARQUES (1978)

A DISCOTEQUE SAN-BAR, na noite do dia 5, sexta-feira, tornou-se palco de importante acontecimento cultural.

O grupo teatral GRUTA – que vem levando muito a sério a difícil arte cênica e que tem sido responsável pela representação, em Patos e na região, de significativas peças teatrais – tomou a peito a execução de um show artístico – o SEX SHOW GÊNESE – com a encenação de textos poéticos da autoria de Drummond, Cassiano Ricardo, Vinicius de Morais, Wilson Pereira e Ricardo Rodrigues Marques.

Com trajes e maquiagem adequados, 13 rapazes e moças do GRUTA introduziram-se na pista de dança da DISCOTEQUE, sob o efeito da música “2001, Odisséia no Espaço”. A partir daí, com a assistência presa e atenta, constituída, na sua maioria, de professores e alunos da Faculdade de Filosofia, apresentaram o seu espetáculo, cheio de ritmos, expressões corporais, vozes e luzes, numa dinâmica coreográfica e cênica que retirou dos espectadores demorados aplausos.

Além da beleza da apresentação, o SHOW causou sobre todos o impacto de sua mensagem.

Confesso que, a princípio, julguei que o local escolhido não seria o adequado. Afinal, os frequentadores da “Boite” ali vão exclusivamente para se divertir e esquecer, por algumas horas, os problemas e dissabores do mundo e da vida. Perturbar esse ambiente e, em plena madrugada incomodar a todos, imergindo-os em reflexões e questionamentos sobre o homem e seu inimigo maior – a bomba, seria uma temeridade. Entretanto, o que se presenciou ali foi algo de extraordinário. Cada um dos assistentes interrompeu os seus momentos de pura alegria e descontração e se deixou envolver pela emoção do espetáculo. O Apocalipse – em sua novíssima versão, a da era nuclear – se revelou aos que ali estavam, cruento e aterrador, nos textos dos poetas e na encenação dos artistas. A ninguém foi possível o alheamento. No contexto da apresentação, de assistentes todos passaram a atores, vivenciando, catarticamente, a experiência vinda do palco.

O SHOW, porém, não desnudou apenas a face horripilante do monstro atômico. As músicas que se entremearam às vozes do elenco como que projetaram résteas de luz na noite de temor e tensão em que vivemos. O homem pode ainda sobreviver à catástrofe e desvencilhar-se do jugo da máquina, se o seu coração se abrir aos apelos do amor e da paz. Esse é o tema do SHOW. “Comunicação horizontal”, de Ricardo Rodrigues Marques, foi o poema escolhido para fecho do espetáculo. O homem e a mulher – a despeito de tantas soluções engendradas e pensadas através dos séculos, para a felicidade humana – voltam a ser postos na sua simples e elementar condição de construtores de gerações mais puras e menos egoístas. Causa de muitos males, mas também matriz de tanto bem, o homem e a mulher, no ato fecundo do amor, realizam a secular e sagrada tarefa de entregar ao futuro novos homens, para renovarem a esperança e para acenderem, com os seus atos, novos fachos de luz e de alvorada.

Ao que tudo indica, o SEX SHOW GÊNESE será reapresentado, brevemente, no mesmo local. Quem não o viu, não poderá perder, desta vez, a oportunidade.

* Fonte: Texto publicado na edição de 25 de maio de 1978 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Momentoslivracao.blogspot.com, meramente ilustrativa.

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