AMADEU DIAS MACIEL

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AMADEUAmadeu Dias Maciel nasceu em 14 de agosto de 1873 na zona rural do hoje município de Patos de Minas. Era ele o décimo filho do casal Antônio Dias Maciel (Barão de Araguari) e Flaviana Rosa Corrêa Maciel, ambos naturais de Bom Despacho. Como seus outros irmãos, excetuado Olegário Dias Maciel, não teve oportunidade de fazer qualquer curso superior. Amadeu, homem de poucas letras e muitas vivências foi em todos os sentidos uma pessoa de grande visão, pertinácia, honestidade e bondade.

Quando mais moço, no início do século vinte, dedicou-se ao comércio pecuário. Assim, saia de Patos chefiando a sua comitiva formada por companheiros de sua confiança. O destino era a cidade de Santa Luzia, hoje Luziânia, estado de Goiás. Lá chegado negociava com os donos dos bovinos, adquirindo desta forma um lote razoável de animais. Em seguida transportava o gado, lentamente, com o auxílio de seus peões, passando por caminhos precários. À noite, fogueiras acesas, todos muito cansados, escutavam aqui e ali o estrugido das onças malhadas, tão abundantes naqueles sertões. Por incrível que possa parecer, o destino final do gado de corte, após o descanso necessário, era a capital da República, Rio de janeiro. Acreditamos que seja complexo, para todos nós, concebermos as dificuldades pelas quais passava a referida caravana para cumprir tão árdua tarefa.

Após numerosas viagens à Santa Luzia e Rio de Janeiro, Amadeu Maciel conseguiu lucros suficientes para se radicar em Patos e dedicar-se ao comércio de “secos e molhados”, como eram denominados os armazéns. Entre eles o seu maior empreendimento foi a “Casa Gotte”, conservando o nome do estabelecimento em homenagem a seu irmão Sesostris Dias Maciel, alcunha Gotte, localizado na esquina das ruas Olegário Maciel e Major Gote, onde hoje se encontra um edifício de numerosos andares.

Além das atividades comerciais (foi ainda representante da Ford, fabricante de veículos norte americana), Amadeu se tornou construtor. Ergueu a Hidrelétrica do Ribeirão da Mata, a primeira existente no município, para a qual idealizara a formação de uma sociedade anônima, em 1914, inaugurada em 1915 no governo do prefeito Doutor Marcolino de Barros. Ergueu para sua residência um sobrado na Rua Olegário Maciel, que mais tarde vendeu para José Reis da Cunha, a qual, posteriormente, foi alienada para José de Santana (Capitão Juca Santana) que o denominou de palacete Mariana, homenageando sua esposa, Mariana, filha do Coronel Augusto Ferreira da Silva. Em 1915 concluiu Amadeu sua nova casa, situada na Avenida Getúlio Vargas, esquina com Olegário Maciel, com bela apresentação visual. Pouco antes de falecer começou a construção de um prédio ao qual denominou “Cine Olinta”, em tributo à sua irmã Olinta Maciel Magalhães. Este cinema desempenhou sua função durante diversos anos. Nos dias atuais o edifício abriga o Sistema Clube de Rádio.

Amadeu Maciel, finalmente resolveu se dedicar em especial à agropecuária, tornando-se fazendeiro, adquirindo de seu sobrinho Dr. Jacques Dias Maciel a fazenda chamada Limoeiro II, tendo nela um grande pomar que permitia a venda para os interessados, de frutas e hortigranjeiros. Curiosamente plantava inúmeros marmeleiros cujos frutos eram utilizados na fabricação de marmelada, para o seu consumo e de sua família. Na referida fazenda, apelidada de “Chácara” possuía uma fábrica de manteiga altamente higiênica e moderna para sua época. O produto, manteiga com sal era vendido em latas de cinco quilos, devidamente lacradas, embalagens adquiridas da fábrica Matarazzo, sob a denominação “Manteiga Limoeiro II”, exportada uma boa parcela diretamente para a capital da república.

Além de outras edificações existia na “chácara” uma confortável construção adequada à residência do capataz e família dispondo, inclusive, de telefone para comunicação exclusiva com a casa do proprietário. A respeito do telefone mencionado acrescentamos um adendo para as novas gerações compreenderem melhor o seu funcionamento. Os aparelhos, importados dos Estados Unidos, eram fixados na sala das duas casas, ou seja, na residência de Amadeu e do capataz. Sua extensão deveria ser de 70 cm. Na parte superior existiam duas campainhas. Ao lado direito havia uma manivela, a qual o usuário acionava nos momentos combinados para conversação. Enfim, eram imperativos fios próprios que através de postes exclusivos permitiam a comunicação entre as duas propriedades.

Um pequeno detalhe sobre a criatividade do biografado podemos narrar em poucas frases. Resolveu fazer em sua fazenda uma grande escavação, próxima do curral, com a finalidade de captar o estrume gerado pelos bovinos, utilizando tais dejetos como futuros fertilizantes. Todos os dias o piso do curral, calçado com pedras tapiocangas, afixadas com massa de cimento, era lavado pelo vaqueiro. Por gravidade os excrementos eram conduzidos para o buraco destinado, através de manilhas de barro. Depois de “curado” e devidamente manuseado, o esterco era utilizado para adubar as plantas. Sem dúvida uma tecnologia admirável para a ocasião. No fim da década de 1930 Patos recebeu a visita de uma grande personalidade, integrante do governo do Presidente Vargas: o Ministro da Agricultura Fernando de Souza Costa, figura exponencial do Estado de são Paulo. As autoridades patenses levaram-no para a fazenda de Amadeu afim de que conhecesse a capacidade criadora do proprietário.

Da chácara de Amadeu, proveniente de uma nascente lá existente foi canalizada a água que servia à população de nossa cidade, sem receber ele quaisquer remunerações. Como acréscimo histórico, salientamos que a água servida às residências patenses era distribuída através de obras da prefeitura. Em síntese, antecedendo tantas cidades brasileiras mais desenvolvidas, este imprescindível melhoramento era colocado à disposição da população patense.

Além de sua intensa atividade empresarial, a sua bondade foi bem perceptível. Ele e sua esposa, Jorgeta Maciel, deram abrigo e carinho a diversas crianças, algumas órfãs, motivo que levava o casal a ser tão querido pela população da nossa cidade.

Faleceu Amadeu Dias Maciel na cidade do Rio de Janeiro, pois lá estava em tratamento de saúde, aos setenta e dois anos, em 20 de outubro de 1945, sendo sepultado no cemitério São João Batista, naquela cidade. Em homenagem póstuma foi dado seu nome a uma rua nos Bairros Várzea e Brasil, em Patos de Minas, bem como uma Escola Municipal Rural.

* Texto: Newton Ferreira da Silva Maciel.

* Foto: Jorgeta e Amadeu, do arquivo de Newton Ferreira da Silva Maciel.

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