JOANA D’ARC

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JOANA D'ARCTEXTO: NEWTON FERREIRA DA SILVA MACIEL (2014)

Ocorria a década de 1950 quando aconteceu o que será narrado neste pequeno artigo. O local onde se deu o fato era o então muito frequentado Cine Tupã, cuja grafia usada era Tupan, situado na Rua Major Gote, ao lado do atual Banco HSBC. Os bons filmes eram exibidos aos domingos, em duas sessões, sendo a primeira às dezenove horas e a segunda às vinte e uma horas. Como as diversões na pequena cidade de Patos de Minas eram bem reduzidas, a presença de seus adeptos era garantida.

Um meu amigo de infância era assíduo na casa de espetáculos. Espirituoso, mordaz, como se diz hoje um grande zombador estava presente quando foi exposto, na primeira sessão, o filme adrede anunciado com estardalhaço pela direção do cinema. O filme trazia muitos motivos para uma grande plateia, pois na realidade se tratava da atribulada vida de Joana D’Arc. Perdoem-me os poucos leitores desta historinha, pois farei uma pequena digressão sobre a biografia desta santa francesa para melhor compreensão.

Joana D’Arc nasceu em 1412. Pobre, analfabeta, se tornou uma mártir da França. Com o desenrolar de sua vida, demonstrando uma inaudita força interior, chegou a comandar um exército de cerca de 4.000 homens, na chamada “guerra dos cem anos” conseguindo a vitória sobre os invasores em maio de 1429, libertando dos inimigos, manobrados pelos ingleses, a cidade de Orléans. A vitória conseguida faz parte, com orgulho, da história francesa.  Entretanto, continuando a liderar os seus guerreiros, a famosa jovem tentou libertar outra cidade francesa. Não conseguiu. Acabou dominada, presa em um cárcere imundo e escuro. Depois de alguns meses foi processada e condenada à morte em 29 de maio do ano de 1431. A sentença propalada era categórica: a ré seria queimada viva em uma fogueira. Assim faleceu a grande lutadora francesa, com apenas 19 anos, na cidade de Rouén. Com a finalidade de evitar quaisquer venerações, as suas cinzas foram jogadas no rio Sena. Em 1920, cinco séculos depois, foi Joana D’Arc canonizada, tornando-se a heroína, além de santa, padroeira da França.

Depois de comentar levemente sobre tal personagem voltemos aos fatos do cine “Tupan”. A mulher que representava Joana D’Arc era, em minha opinião, a mulher mais linda que eu já vi até hoje. Sueca, a artista de Hollywood se tornou conhecida e admirada em todo o mundo. Multidões não mediam esforços para frequentar os cinemas quando eram exibidos filmes cuja figura principal era Ingrid Bergman.

Durante o percurso da película objeto deste comentário, eram exibidas lindas cenas de ação desta moça belicosa. Já quase no final do espetáculo, preparando-se para ser incinerada na fogueira, havia uma cena comovente em que a artista subia uma escada de alguns degraus, até chegar no topo do local onde seria sacrificada. Exatamente nesta hora a mártir dava uma leve parada em seus passos e, propositadamente, virava o rosto para os espectadores de tão deprimente acontecimento.

Os assistentes, ansiosos, permaneciam em um silêncio sepulcral, notadamente no momento de um suspense tão grande, arquitetado pelos produtores da película. Precisamente no êxtase da cena, meu chistoso amigo que havia assistido à primeira sessão do filme e, portanto, conhecedor das cenas aproveitou o momento certo para efetuar sua brincadeira e gritou, usando o máximo volume que lhe permitia a garganta, o nome da heroína francesa: JOANA D’ARC…

Como se a bela atriz atendesse ao seu apelo ao se virar para traz, todos os assistentes da comovente cena perceberam o pilhérico apelo do espectador. Enfim, foi uma uníssona gargalhada emitida por todos os presentes. Durante dias foi comentado entre as pessoas da cidade o espirituoso episódio.

* Foto: En.wikipedia.org.

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