COM UMA VENDA NOS OLHOS

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OLHOSTEXTO: RAFAEL GOMES DE ALMEIDA (1982)

Uma coisa que anda preocupando o paisagismo de nossa cidade e que, teimosamente, insiste-se em não se ver, é a questão de loteamentos que se transformam em cinturões da cidade que continua crescendo de maneira não muito organizada.

Evidentemente, não há como se culpar as pessoas que andam construindo casas populares em pontos que poderiam se tornar nobres da cidade, mesmo porque o próprio Governo Federal tem incentivado este tipo de empreendimento e o poder municipal aprova as plantas dos loteamentos e das construções.

Como empresários, os patenses que se lançam nesse gênero merecem até o nosso aplauso, mas a cidade vai sair perdendo monstruosamente com este tipo de empreendimento.

Ainda hoje nos dói ver o Polivalente situado num ermo, enquanto as primeiras casas populares se encontram tão próximas ao promissor Bairro Caiçaras.

Depois, quando o Bairro Vila Garcia começava a ganhar uma conotação melhorada, principalmente, com o seu crescimento ordenado nas proximidades do “Mocambo”, surgem lotes e casas como que, estrangulando o crescimento daquele setor. São centenas de casas para proprietários de baixa renda e outras centenas serão construídas nas proximidades da “Casa das Meninas”, como que fechando o cinto de uma cidade que ficará impedida de crescer.

Volto a insistir, os construtores das referidas casas não têm culpa se são incentivados pelo Governo Federal e se recebem o beneplácito do poder Municipal.

O que me parece mais estranho em tudo isto, é que o governo brasileiro procura abrir “frentes de trabalho” para ocupação da mão de obra não especializada. Diante de tanta publicidade que se faz em torno deste problema, chega-se a admitir que o poder legislativo não tem tido voz ativa, pois a construção civil sempre tem pouca duração e terminada a obra, eis que milhares de desempregados terão onde morar, mas não terão como pagar as prestações das casas e manter as suas famílias.

Numa região como a do Alto-Paranaíba, em que se nota o acentuado êxodo rural, quando o trabalhador fixo do campo sempre foi melhor remunerado que o da cidade, não se entende a permissividade para se aumentar o número de casas populares, quando não existem empregos fixos na cidade, garantidores da sobrevivência do homem do campo que se muda para a cidade.

Entendemos e isto seria mais crível, que o governo brasileiro se voltasse a uma infra-estrutura rural mais condizente  com a vida dos trabalhador brasileiro, porque as construções rurais, se feitas com recursos do dono da terra, se sujeitam a juros muito elevados, principalmente, quando é sabido que a agropecuaria brasileira está se tornando um contrato de risco.

Que os benefícios urbanos se transfiram para o meio rural, de tal forma que o rurícola não tenha, compulsoriamente, que deixar a vida do campo e vir a ser um desempregado na cidade.

Estamos vendo em nossa região, ainda com o beneplácito do Governo Federal, os incentivos para as lavouras de irrigação. Os produtores estão vendo neste sistema de lavouras irrigadas, a salvação da agricultura, mas acontece que para a irrigação é imprescindível que exista luz nas propriedades rurais, e, por incrível que pareça, 95% das terras irrigáveis são despidas de energia elétrica.

Ao se notar tantos desacertos, não podemos deixar de apresentar a nossa crítica aos governos que, tentando corrigir os males, não enxergam os males maiores que virão e, igualmente, não podemos aplaudir as construções desenfreadas de casas que em nada irão enriquecer a nossa cidade, já tão empobrecida por ausência de liderança.

* Fonte: Texto publicado no n.º 49 da revista A Debulha de 15 de junho de 1982, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Pt.dreamstime.com.

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