EM DEFESA DE RUAS LARGAS

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7TEXTO: OSWALDO AMORIM (1976)

A largueza de nossas ruas chama fortemente a atenção de quem trava conhecimento com Patos de Minas. Mas, curiosamente, a impressão é transmitida pela parte antiga da cidade. A nova, infelizmente, está longe de conservar o mesmo padrão da primeira.

O fato talvez seja pouco notado pelos visitantes. Mas como dói nos que amam verdadeiramente esta terra.

Reparem a ironia: nossos antepassados traçavam amplas vias públicas, quando o principal meio de transporte era o cavalo; e agora nossos contemporâneos traçam vias estreitas, quando o número de carros, ônibus e caminhões multiplica-se visivelmente. Aliás, cada vez mais estreitas.

O mais grave é que o número de veículos cresce em proporção cada vez maior. Em 1940 raras pessoas tinham automóvel (era assim que se chamava) e todos sabiam o nome dos donos. Na segunda metade da década de 50, uma década de muito progresso para Patos, o número de veículos já havia passado de mil, somando-se os de passageiros e os de carga. Em fins de 74, o número de veículos saltou para 4827 – segundo a Agência local do IBGE. Ou mais exatamente 3738 veículos de passageiros e 1081 de carga.

Tendo-se em vista a autêntica escalada automobilística de Patos, não é preciso ser profeta para prever que nossa frota de veículos automotores será qualquer coisa parecida com 10 mil, em 1980. E o triplo, ou mesmo muito mais em 1990, a menos que o desenvolvimento do transporte coletivo modifique o quadro.

Admitindo-se isso (e quem pode recusá-lo?), deveríamos estar cuidando com todo o empenho de preparar a cidade para essa fatal multiplicação de veículos. Com esse propósito venho defendendo a necessidade de um amplo planejamento urbanístico para Patos, prevendo sua expansão para todos os lados, num círculo completo.

O objetivo é traçar desde já coordenadas de nosso crescimento, para que ele ocorra de forma ordenada e inteligente, com uma generosa previsão de largas vias-tronco, capazes de assegurar boas ligações entre todos os setores da cidade, no futuro. Além de praças e parques para o lazer da população.

Trata-se de uma medida de vasto alcance para o futuro de Patos. E cuja eficácia será tanto maior, quanto mais cedo ocorre.

Mas, em vez de iniciativas dessa envergadura, o que se vê, infelizmente, são concessões, que só servem para comprometer esse furo. Outro dia foi o estreitamento da rua Agenor Maciel, a partir do Mercado. Ou, se preferem, a abertura de uma rua estreita, a partir do Mercado. Agora, a permissão para a construção de um prédio sobre uma importante avenida, ao longo do córrego do Monjolo, traçada no Plano Diretor da cidade. É certa que a permissão incluiu uma ressalva: só haverá indenização para o terreno, quando a avenida for aberta. Mas isso não ajuda muito. Já pensaram na resistência dos donos em desmanchar o prédio quando se iniciar aquela abertura? E quanto mais cedo isso acontecer, maior será a reação.

Para o bem da verdade, gostaria que o Waldemar, que está realizando um magnífico trabalho pela eletrificação do Município, conservasse a mesma firmeza com que impediu o estreitamento da rua Ouro Preto.

Longe ou perto das eleições.

* Fonte: Texto publicado com o título “Em Defesa do Futuro de Patos” na edição de 29 de julho de 1976 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam, publicada em 07/12/2015 com o título “Rua Major Gote em 1971”.

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