PARAQUEDISTA MEDROSO

Postado por e arquivado em ARTES, FERNANDO KITZINGER DANNEMANN, LITERATURA.

Godofredo, dileto filho de Periquitinho Verde, cidade que tem as águas do rio Aguaprarriba correndo mansas e tranqüilas a seus pés, não conseguiu vaga no Tiro de Guerra de seu torrão natal e por isso resolveu alistar-se no exército para cumprir o seu tempo de serviço militar obrigatório. Submetido aos exames de rotina e aprovado em todos eles, o moço ouviu de alguns rapazes que também procuravam ingressar nas forças armadas, que a opção pela tropa de paraquedistas poderia ser extremamente interessante, porque lá qualquer um certamente encontraria, durante o desempenho de sua atividade de soldado, emoção e aventura na quantidade exata para manter a adrenalina em constante ebulição. E isso seria a mesma coisa que unir o útil ao agradável.

E foi o que ele fez. Uma vez incorporado ao batalhão de paraquedistas, Godofredo completou inicialmente a cansativa preparação básica daquela especialidade, em seguida cumpriu o programa de saltos a partir de plataformas cada vez mais altas, até que finalmente foi escalado para o treinamento real, ou seja, pela primeira vez, ele e outros soldados deveriam lançar-se de um avião voando a centenas de metros de altura. Cumprida essa tarefa, no dia seguinte o moço telefonou ao pai para lhe contar as novidades.

– E aí, meu filho, você pulou? – perguntou o pai logo de cara.

– Calma, papai, que eu vou lhe explicar o que aconteceu. Nós entramos no avião, ele subiu, e quando chegou lá em cima o sargento abriu a porta e perguntou quem era voluntário. Aí uns doze colegas se levantaram e em seguida pularam do avião.

– Foi aí que você pulou, não foi? – voltou a perguntar o pai.

– Não, também não foi dessa vez, papai. Mas depois que esses voluntários pularam, o sargento começou a agarrar os paraquedistas restantes, um a um, e a jogá-los pela porta aberta.

– Aí você pulou! – exclamou o pai.

– Estou chegando lá, meu pai. Minutos depois todo mundo já tinha pulado e eu era o último soldado que ainda permanecia firme no avião. Nessa hora eu achei que o melhor a fazer seria confessar ao sargento que estava com um medo danado de pular… para ver se ele compreendia…, mas ao ouvir isso o sujeito garantiu que se eu não pulasse, ele me daria um chute no rabo.

– Então você pulou!

– Ainda não foi dessa vez, pai. O sargento tentou me empurrar para fora do avião, mas eu estava com tanto medo que me agarrei firme na porta, com as duas mãos, e assim nós ficamos durante algum tempo, num empurra-empurra que parecia não ter fim, mas eu agüentei o tranco e não deixei que ele fizesse o que queria. Foi aí que o sargento-instrutor, um baita negão que de tão grande que é mais parece um armário de quatro portas, e pesa no mínimo uns 150 quilos, saiu lá da cabine do piloto, veio direto ao meu encontro e perguntou com cara de quem não estava gostando nem um pouco daquela bagunça: ‘Rapaz, você vai pular ou não vai?’.  Então eu lhe disse que não, que não pularia de jeito nenhum porque estava com muito medo, e em resposta ele abaixou o zíper da calça e eu vi o tamanho do troço dele. Então ele me encarou firme nos olhos e disse em voz rouca e baixa, como se estivesse custando a controlar a raiva.

– Olha, seu frescalhão, ou você pula fora deste avião agora mesmo, ou eu vou ter que usar esse meu negocinho em você. Entendeu?’

– E aí você pulou – completou o pai, aliviado.

– Bem, pai…  Pra falar a verdade, no começo eu pulei mesmo, mas foi só um pouquinho…

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