FESTA DO MILHO EM TEMPO DE BISTURI

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MILHOTEXTO: RAFAEL GOMES DE ALMEIDA (1980)

Agora chegou a gota d’água que estava faltando para transbordar a oceânica Festa do Milho. Há poucos dias situei que desde o começo de minha vida jornalística, tenho me insurgido contra deterioração da Festa. Agora, vêm as Entidades de classes de nossa cidade e, num repúdio totalmente justificado, abrem as cartas de um baralho marcado quando as Entidades entraram para um jogo limpo.

Não é preciso ser muito vivos para se compreender o que anda ocorrendo e, numa tentativa de sintetizar os acontecimentos, vamos analisar os últimos fatos. O Patrício deu uma nota na Folha Diocesana, aonde, com rara infelicidade, situou que as nossas Entidades e clubes de Serviços criticam, criticam, mas na hora de pagar para ver, fazem corpo mole. O Dr. Murilo, em sua coluna “pinga fogo”, refutou acremente a nota de responsabilidade do Patrício, sendo que antes o Dr. Waldemar da Rocha já se manifestara contra o pronunciamento do Patrício. O vice-prefeito de Patos, Ricardo Marques concedeu uma entrevista no Correio de Patos, sendo que não é preciso ser nenhum adivinho para se concluir que estamos à pé não é só de prefeito. Um dos tópicos da entrevista, o vice-prefeito afirma, de maneira que chega a ser hilariante, que um “ingresso no Poliesportivo deveria ser bem mais caro que o ingresso cobrado no Parque de Exposições”.

Em tudo isso, existem fatos que não estão sendo abordados pois o Sindicato Rural já está locando as barracas para o funcionamento de bares e, segundo me contaram o aluguel durante a Festa custará Cr$ 65.000,00 por barraca.

Ora, com o aluguel deste preço, o locatário, terá que vender cerveja a Cr$ 80,00, o refrigerante a Cr$ 50,00 e assim sucessivamente. A prefeitura deveria e deve ainda, solicitar do Sindicato um orçamento prévio de renda e despesas, para em seguida liberar verbas para a Festa, pois, sinceramente, com os preços da localização nem há necessidade de haver “injeção de dinheiro público”.

Outra coisa que está sendo omitida é que, no Sindicato Rural existe cadeira cativa para pessoas que nada construindo para a coletividade, conseguem em uma semana, um dinheiro que 65% da população não consegue em 10 anos.

E vamos encontrar uma coisa mais grave ainda: – O Sindicato tem medo que a Festa da cidade, dentro da programação da Festa do Milho, esvasie o Parque de Exposição e se perca a grande indústria de salovar as pobres criaturas que vem ver a Festa. Os “donos da Festa”, porque agora se sabe que a Festa tem dono, ignoram que a maioria do patense não está a fim de curtir animais de raça ou gado leiteiro, quando até os prêmios são conferidos com as cartas marcadas. O Sindicato está confundindo multidão ociosa com multidão em festa. O prefeito já deve saber que a Festa está perdendo a sua razão de ser. O vice-prefeito deve estar cansado de saber que a nossa juventude precisa de uma opção e um programa no Poliesportivo, custa muito menos que uma entrada no Parque de Exposição, porque no Ginásio coberto não existe cerveja de Cr$ 80,00, não existe refrigerante de Cr$ 50,00 e quem vai assistir o espetáculo assiste e participa da Festividade.

Todo ano, esse pessoal que comanda e dita a Festa faz uma brincadeira de pedir sugestões, mas no fundo atende-se os ditames de interesses pessoais, pois sempre falei que se deveria modificar o sistema da Festa. Outras pessoas falaram. Outras, e não falaram poucas, se propuseram a trabalhar em comum. Acontece que na Festa do Milho, assim como em outras atividades patenses, o plural de “nós” é “eu”. Mas ainda tem uma saída: – Que as donas de casa de Patos de Minas façam um movimento de “boicote” à Festa. Que ninguém vá a lugar nenhum, porque já se sabe que não se perde nada ficando em casa ou saindo de férias. Por experiência própria, posso lhes assegurar que uma viagem fica muito mais barata que os gastos que se tem durante a Festa. É hora de dar um basta nestas brincadeiras de mau gosto. Se a Rádio de Patos não der cobertura ao boicote, quem sabe a Rádio Princesa topa a parada!? Fica aí uma outra opção!

* Fonte: Texto publicado na coluna “Da Minha Fazenda Grande” com o título “Em Tempo de Bisturi!”, da edição de 15 de março de 1980 do jornal Correio de Patos, do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Cartaz oficial da Festa do Milho de 1980, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

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