É PRECISO SALVAR A FESTA DO MILHO

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FESTA DO MILHONão sou pessimista, nem muito menos derrotista. Pelo contrário, sou considerado às vezes, até excessivamente otimista.

Entretanto, pelas observações feitas por ocasião desta Festa do Milho, passei a temer seriamente pelo seu futuro. Vi-a, ao atingir a maioridade, fria, vazia, agonizante até… Vi o movimento do mês de maio, antes buliçoso e entusiasta, transformado simplesmente na realização de uma Festa do Parque de Exposições.

Não é que sejamos contra a festa da Exposição Agro-Pecuária. Pelo contrário, é óbvio, julgamo-la o ponto central de nossa Festa do Milho e não podemos conceber esta, sem aquela.

Não podemos porém, conformarmo-nos com o retrocesso.

Festas de Exposições, há às dezenas por este Brasil afora, muitas das quais, quem sabe, bastante superiores à nossa.

FESTA NACIONAL DO MILHO, porém, há uma só… a nossa. A nossa, que está se extinguindo.

Patense da gema e de coração, venho de uns quatro ou cinco anos para cá, sentindo a sua decadência, o que já não é novidade para ninguém.

Neste ano, no entanto, ao ver vazias as ruas centrais de nossa cidade; ao ver a grande redução do movimento do comércio; ao ouvir as reclamações várias e as manifestações de decepções; ao sentir o desânimo generalizado; ao ver a tristeza de criadores de nossa Festa; ao ver inúmeras famílias se valerem dos “feriados” ocasionados pela Festa, para uma viagem com a família; ao assistir o desfile militar e Estudantil, onde imperava apenas a boa vontade e o denodo de alguns dirigentes de colégios, sem o brilhantismo de outrora, sem as alegorias que nos enchiam os olhos e a alma de contentamento, sem a vibração das fanfarras; pus-me a pensar: resistirá a nossa Festa ainda dois ou três anos?

Sinceramente, creio que não.

O que se fazer então para salvá-la?

Vêm alguns e afirmam: realizá-la de dois em dois anos.

Será essa a solução? Uma vez mais, cremos que não. Pelo contrário, seria essa a maneira de sepultá-la mais depressa ainda.

Como não sou daqueles que costumam criticar e apontar erros, pelos simples prazer de fazê-lo, sem no entanto, me considerar como aquele que tem a solução do problema, ousarei apenas, apresentar algumas sugestões e o faço somente pelo amor que tenho à nossa terra e à nossa Festa, que estamos preocupados em salvar.

Queixa-se muito do alto preço do ingresso ao Parque de Exposições e bem assim, de tudo que dentro dele se desfruta.

Sabemos que o valoroso Sindicato Rural – a cujos dirigentes rendemos nossas homenagens, pois sem ele, talvez já não mais existisse a tradicional Festa – não recebe verbas governamentais, ou se as recebe, são elas insignificantes e sabemos também, que sem dinheiro não se faz uma Festa.

Sabemos por outro lado, que nosso povo, em geral, de baixíssimo poder aquisitivo, não pode arcar com as despesas da Festa e dela se afasta. É aí, que tem que entrar o Poder Público Municipal.

Sabemos também, das dificuldades de nossa Prefeitura, mas sabemos ainda, que a Festa do Milho é para ela, de fundamental importância.

Não foi por ela, que Patos de Minas se tornou conhecida nacionalmente? Não foi por causa dela, que as maiores autoridades do país que aqui vieram e até nos trouxeram benefícios? Não foi por causa dela, que em outras épocas, nosso comércio floresceu? Não foi por ela, que durante o mês de maio, em todos os anos, nossa cidade passou a ter sua única “grande indústria” – a do turismo?

Por estas e por outras razões, cremos que a Prefeitura tem que arcar com a responsabilidade dela, o que é para si, um grande investimento.

Uma substancial verba municipal ao Sindicato Rural, lhe permitiria reduzir o preço de seu ingresso ao Parque, à quarta ou quinta parte do atual e também, o arrendamento de suas barracas, que consequentemente, permitiria aos seus arrendatários diminuir o preço de suas mercadorias. Poderia assim, ainda o Sindicato, reduzir em muito, o preço da concessão ao Parque de Exposições, que da mesma forma, poderia cobrar quem sabe, cinco, ao invés de quinze cruzeiros “por uma voltinha”.

Restariam ainda ao Sindicato, os ingressos à pista de rodeios e a participação nas vendas da feira de gado, que seria ativada junto às direções dos estabelecimentos bancários locais.

Dinheiro não lhe faltaria portanto, e quem sabe assim, estivesse resolvido o problema da Festa, no Parque de Exposições. E poder-se-ia reviver a “Semana Ruralista” – há tanto extinta – quando técnicos de reconhecido valor, voltariam à nossa terra, para graciosamente, ministrar ensinamentos ao nosso homem do campo.

Mas, e a Festa do Milho?

Novamente, a Prefeitura, competiria o trabalho de levantá-la.

A ornamentação das ruas – que lamentavelmente neste ano, só foi feita na noite do dia 23 – seria muito mais farta e realizada no início do mês de maio, como nos primeiros anos.

Um palanque seria armado defronte do Fórum, como antes – nunca atrás da catedral, como se fez mais recentemente – e nele seriam realizadas apresentações de cantores de músicas sertanejas e outras populares, do “Figurinha”, do “Carequinha” e outras, em dias alternados e de comum acordo com o Sindicato.

Voltariam à majestosa Av. Getúlio Vargas, as exibições de equilibristas e aramistas, da equipe de Euclides Pinheiro, da Esquadrilha da Fumaça e com elas, as gincanas.

Por que não trazemos de volta o Ballet Aquático e a Sinfônica da Polícia Militar?

Nossa arte, voltaria a ser valorizada. Onde está a tradicional exposição de quadros das alunas de D. Terezinha Couto Corrêa? Atualmente, a pintura e o artesanato muito se expandiram em nosso meio. Que venham as exposições em um ponto central da cidade.

Temos hoje, uma Escola de Música e um Stúdio de Ballet, ambos promissores e em franco desenvolvimento. Poderiam eles, nos brindar com suas apresentações, ao mesmo tempo em que se promoveriam.

Proliferam em nossos dias, entre nós, os grupos teatrais e já temos até um teatro… Duas ou três peças, poderiam ser apresentadas durante o mês.

Por onde andará nosso Festival de Música? Que ele volte com a força dos anos anteriores.

E o nosso magnífico Ginásio Poliesportivo? Que sejam neles realizados torneios de basquete, vôlei e futebol de salão, com a participação de equipes de outras cidades, para o despertamento de nossos jovens.

A Festa deste ano, foi fraca até no concurso da Rainha, que sempre foi seu ponto culminante. Fracassou logicamente, não em qualidade, mas em número – apenas duas candidatas concorreram ao título, quando nos anos anteriores foram três e nos primeiros anos, até mais.

Onde a vibração pelas candidatas? Onde as crianças, que desde logo escolhiam suas eleitas e nos desfiles se acercavam delas e lançavam seu “grito de guerra”?

O alto custo das inúmeras vestimentas e da intensa publicidade que lhes são necessárias, desanimam a uns e impedem a outros pais de cederem suas filhas, para esse quase sacrifício.

Que a Prefeitura lhes conceda tais recursos.

E o desfile militar e estudantil?

Ao invés de torná-lo enfadonho e até mesmo revoltante para os estudantes, por que não motivá-los para que ele volte a ser um dos pontos altos da Festa?

Que se instituam prêmios, por exemplo, para a melhor alegoria, para a melhor fanfarra, para o colégio que se apresente de maneira mais original. Que sejam criados troféus para primeiros, segundos e terceiros lugares de cada modalidade. Apenas uma sugestão: que se instituam a “espiga de ouro”, a “espiga de prata” e a “espiga de bronze”, que logicamente não seriam confeccionadas nesses metais, em virtude de seu alto custo, mas que, apenas os simbolizasse.

E assim, o povo voltaria às ruas. A Av. Getúlio Vargas novamente regurgitaria de gente. O comércio, novamente beneficiado, voltaria ao antigo entusiasmo, e estaria pronto a colaborar. E os criadores da Festa, não mais se sentiriam tristes, mas teriam o velho prazer de dela participar.

E a nossa FESTA DO MILHO, tão querida e antes tão bela, não morreria jamais.

* Fonte: Texto de Dirceu Deocleciano Pacheco publicado na edição de 07 de junho de 1979 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Cartaz oficial da Festa do Milho de 1979, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

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