JOVENS VÃO ESTUDAR FORA NA DÉCADA DE 1970

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ESTUDARTEXTO: RAFAEL GOMES DE ALMEIDA (1980)

Minha gente, eu vou fazer força para estar errado no meu ponto de vista, mas vou, igualmente, lhes pedir que me acompanhem no raciocínio.

Temos visto, por diversas vezes, situações embaraçosas em nosso município, principalmente por falta de recurso financeiro.

Estamos sentindo um esvaziamento de nossa juventude, seguindo para outras cidades, em busca de estudos. O curioso de tudo isto é que os jovens ficam loucos de saudade de nossa terra, mas é uma saudade que se mata com dois dias, porque os jovens já não mais se acostumam com o arrozal do asfalto patense.

Estou situando esta reflexão inicial, porque sente-se que Patos, por inoperância de seus filhos, está pagando para perder jovens de futuro.

Vamos buscar situações mais práticas: – Tenho a impressão que, no mínimo, 100 jovens patenses estão estudando fora e estudando às custas dos pais que aqui residem e trabalham. Em média, com muita economia, entre escola, comida, moradia e outras despesas, cada estudante consome Cr$ 7.000,00 por mês, ou seja, Cr$ 700.000,00 que Patos remete às outras cidades para manter os seus próprios filhos.

A isto que, em princípio, se poderia chamar de ampliação de capital na formação de profissionais, deve-se ressaltar que 99% dos jovens, depois de formados, não voltam a Patos de Minas. Não voltam por inadaptação com o quadradismo de nossa política e a beócia situação social da cidade, ou não voltam por falta do mercado de trabalho.

Vejam bem: – Perdemos jovens em formação e adquirimos outros elementos que já chegam em busca de aventura.

Perdemos jovens que muito poderiam fazer por nossa terra e conquistamos elementos que vêm tirar proveito desta mesma terra. O pior de tudo é que pagamos para perder e aplicamos dinheiro para ser menos gente, embora possamos nos tornar uma cidade mais populosa.

Francamente, este estado de coisa me apavora, e o meu pavor mais se acentua porque não se vislumbra nenhuma chance para o futuro patense. Todo fim de ano, tem-se a notícia de que virá uma outra faculdade para a nossa terra, mas fica tudo em conversa.

Os homens que comandam o destino deste município ainda, não compreenderam que a terra, antes farta e produtiva, está se cansando. Eles não compreendem que o que possuem é bastante para que sejam ricos hoje, mas que seus filhos serão homens pobres amanhã.

Nós ainda raciocinamos em termo de patrimônio material e ainda não aprendemos a dar valor na formação profissional.

Patos já comporta uma escola a nível médio, para formação de técnicos agrícolas e uma faculdade de agronomia ou veterinária. Isto não pode ser encarado como utopia ou como devaneio de um jornalista, compromissado semanalmente, em dar um recado aos seus leitores.

Eu falo tudo isto não pensando em mim, porque se amanhã eu não puder mais trabalhar ou parar de escrever, o patrimônio que possuo é suficiente para que eu viva sem muitas preocupações. O meu grito é um grito dado em favor da coletividade, em favor da cidade e em benefício da região.

Felizmente, ainda que outros pensem de outra forma, nunca fiz do jornalismo um joguete de interesse pessoal e sempre procurei dar o recado de interesse de nossa comunidade. Não faz mal que eu fale no deserto, nem me preocupo com o que a história patense possa registrar sobre o que escrevo. Tenho um compromisso com o hoje, porque já está passando da hora de se começar o alicerce para o futuro.

Se eu estiver errado, apontem o meu erro porque não me falta humildade para aceitar o apontamento das falhas e as corrigir, enquanto é tempo.

* Fonte: Texto publicado com o título “Será Que é Isso Mesmo?” na coluna “Da Minha Fazenda Grande” na edição de 05 de abril de 1980 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Culturamix.com, meramente ilustrativa.

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