INDISCREÇÕES NO CINEMA

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CINEMATEXTO: JORNAL O RISO (1915)

Desenrolava-se, na sessão cinematographica¹ de Domingo passado, importante fita dramatica, emquanto na platéa e camarotes se desenrolavam as fitas naturaes. Eu, com a minha costumada indiscreção, procurava, com os olhos, descobrir alguma cousa que satisfizesse à minha curiosidade.

O momento propicio não se fez esperar; notei logo, na platéa, que dois cavalheiros, jovens ainda, pareciam fazer commentarios. Fui logo applicando o meu geitinho e, pedindo licença, incommodando senhoras, puz-me sentado atraz dos commentadores e fui escutando:

– Mas é um Cinema original este.

– Originalissimo, pois aquelle classico Boa Noite com flores ao principiar e terminar as sessão, o intervallo…

– O intervallo ainda vá, è bom para descançar e… dar pasto à vista.

– É natural; mas, porque não se faz luz depois de cada fita, em vez daquella projecção circular que parece a lua vista ao telescopio?…

– Pois è.

– E aquella caricatura annunciando a ultima fita como se a gente não estivesse já cançado de saber pelo programma?…

– Homem… aquillo até parece mais é filhote de urucubaca.

Riram-se gostosamente os dois e eu, não me podendo conter, ri-me tambem dando lugar a que elles olhassem repentinamente para traz. Então mudei de phisionomia, fingindo prestar muita attenção ao que se passava na tela; e, fil-o com uma pericia tal que eu proprio admirei. (Não é modestia, não) Durante o resto da sessão portei-me com mais discreção ainda que o major Olympio Borges.

Indiscreto.

* 1: Cine Magalhães.

* Fonte: Texto publicado na edição de 12 de junho de 1915 do jornal O Riso, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Colorireaprender.com, meramente ilustrativa.

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