ARTUR GONÇALVES DA SILVEIRA, UM HOMEM SINGULAR

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001TEXTO: OSWALDO AMORIM

Quem o conhece não tem dúvida: o Artur é uma pessoa diferente, ante a qual ninguém fica indiferente: ou se gosta ou não se gosta. Mas sem dúvida, quanto mais se o conhece, mas se gosta dele.

Mas antes de mostrar as singularidades do Artur, farei um resumo de sua vida. Artur Gonçalves da Silveira nasceu no dia 17 de setembro de 1929, na Fazenda Salobo, município de João Pinheiro. É o segundo dos sete filhos do casal Tancredo da Silveira e Natalíbia Augusta da Silveira. Ainda era pequeno quando a família se mudou para a Fazenda da Larga, no município de Patos de Minas, em cuja sede se fixaria algum tempo depois.

Em Patos de Minas, Artur fez o curso primário na Escola da Dona Madalena que, depois de adulto, e com seu jeito peculiar, ele passou a chamar de “Faculdade da Dona Madalena”.

Na casa dos 20, conheceu, namorou e casou-se com Berenice Gonçalves de Souza Silveira, com quem teve três filhos: Lênia Mara, Reginaldo e Ricardo. Sendo que a primeira lhe deu dois netos, Janice e Felipe.

Sua vida profissional começou bem cedo, como vendedor de revistas “O Cruzeiro”, a despertar-lhe o gosto pela leitura, graças ao qual foi acumulando crescente cultura geral ao longo do tempo. Foi por esta época que teve o seu primeiro emprego formal, como funcionário do Correio. Mais tarde, passou a trabalhar no Banco da Lavoura, que deixou após alguns anos para tocar a fazenda da família, próxima a Santana do Cricó, hoje Galena.

Foi aí que fui procura-lo com uma proposta: a de entrarmos juntos num negócio que me fora oferecido em Patos de Minas, por um grande amigo e pessoa de alto conceito na cidade, Geraldo Ferreira. Era o começo de uma grande guinada na vida do Artur: sua entrada no “Café Cristal”. Por um desses sortilégios do destino, acabei seguindo outro rumo.

De qualquer forma, fiquei contente por ter contribuído para encaminhar um grande amigo para uma dupla realização: a de tornar-se um empresário vitorioso e um cidadão respeitado e querido.

E certamente ele fez por merecê-lo, pelo devotamento ao trabalho e a competência com que conduziu seu negócio, por um lado, e por outro, por sua integração à sociedade e seu espírito progressista e generoso. Basta ver sua decidida atuação pelo fortalecimento da Associação Comercial de Patos de Minas; seu papel como sócio fundador do Lions; seu admirável trabalho em favor dos menores abandonados, como presidente da seção patense da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (Febem); e por sua destacada atuação na campanha nacional pela erradicação do analfabetismo. A última por sinal valeu-lhe um Diploma Honra ao Mérito, oferecida pelo presidente do Mobral, em 1971.

É conhecida na cidade a prodigalidade com que sempre distribuiu material escolar para estudantes carentes, através das professoras que o procuravam para isso. É igualmente conhecida a generosidade com que sempre repartiu a água de seu poço artesiano. Ainda agora quando, por razões de segurança, teve de colocar um portão eletrônico em sua casa, deixou uma torneira do lado de fora para que todos os seus “fregueses” continuassem a apanhar a sua água fresca e límpida.

Além do “Café Cristal”, ao qual modernizou e deu nova dimensão, Artur construiu a primeira destilaria de álcool da região. O negócio só não prosperou porque o Governo deixou de apoiar o programa que ele mesmo criou: o Pró-Álcool. Outra iniciativa sua, foi a tentativa de criar, com a ajuda dos amigos (entre eles meu irmão Tioca), uma indústria, na área mineral da região: a Patos Mineração, Indústria e Comércio (Paminco), para a exploração de calcário calcítico, entre o Varjão e a Galena. Um projeto em dois grossos volumes chegou a ser montado e o empreendimento só não saiu por causa dos altos juros exigidos pelo financiamento. Mas a iniciativa acabou dando frutos: bem elaborado o projeto de pesquisa deu origem à maior indústria do ramo na região: a Ultracal.

Outra iniciativa de grande expressão para a cidade na qual teve a participação decisiva, na fase de aquisição do terreno, foi a destinada à construção do Hospital Vera Cruz.

Tudo isso valeu ao Artur, algumas honrarias, como o título de Cidadão Honorário, outorgado pela Câmara Municipal, o de Empresário do Ano, e o destaque de ter sido a maior fonte de arrecadação do ICM do município. Tudo isso lhe rendeu mais que honrarias oficiais, deram-lhe o reconhecimento geral da população como um empresário capaz e empreendedor, que sempre contribuiu para o progresso do município, e como um cidadão que também sempre colaborou para o desenvolvimento social da comunidade.

De resto, o Artur pode ser apontado como um símbolo das inúmeras pessoas nascidas em outras localidades que se tornaram tão patenses quanto as que mais sejam. Enfim, que não apenas se mudaram para cá, mas acreditaram nesta terra e fizeram dela, para sempre, a sua terra.

Eis aí, em rápidas pinceladas, o retrato do empresário e do cidadão Artur Gonçalves da Silveira. Deixe-me entrar, agora, no lado pitoresco do Artur, ao final de contas, é o mais saboroso.

Começarei por sua terminologia “sui-generis”: Hotel para ele é pensão, mesmo que esteja hospedado num cinco estrelas. Avião para ele é aeroplano. Sua casa é o “barracão”; sua mesa é o “buteco”; biscoito é “quitanda”. Até a doutora Lênia Mara, mãe de adolescentes, ele continua chamando de “minha criança”.

Antes de contar algumas tiradas suas, que ficaram famosas na cidade, gostaria de lembrar que a graça com que faz as suas observações, geralmente disparadas de bate-pronto, sempre amenizam sua conhecida franqueza. Assim, em vez de mal-estar, elas provocam risos.

Eis alguns casos de seu “folclore” particular: Quando presidia a Febem, o Bispo da época perguntou-lhe como ia o trabalho. Artur respondeu que não ia bem, por falta de apoio da comunidade. O Bispo retrucou que para ele não faltava apoio, e que a última arrecadação tinha sido muito boa. O Artur devolveu na bucha: “E eu estou em desvantagem, o Senhor pode mandar o povo para o inferno. Eu não posso”. Chegando ao Batalhão, aonde fora visitar o Comandante, o Artur foi barrado pela sentinela armado. Ao ser recebido pelo Comandante, disse-lhe: “Não gostei da recepção. Mas se o senhor for ao ‘Café Cristal’, vai ser recebido por uma moça bonita que, além do sorriso, vai lhe oferecer um cafezinho feito na hora”. De outra feita, numa fazenda, ao ver um bezerro procurando as tetas da vaca na parte dianteira, soltou outras das suas: “Ô cidadão, o restaurante é na outra esquina”.

O termo “Cidadão”, aliás, é a marca registrada do Artur, por ser a forma como ele trata quase todo mundo. E acabou sendo também a forma pela qual quase todos o tratam. O excelente Acir Marques, o Sobrinho, costuma dizer que a popularização da palavra “Cidadão” em Patos de Minas é uma das contribuições do Artur para a cidade, na medida em que nos deu uma alternativa digna para chamarmos uma pessoa cujo nome ignoramos.

Mas para fechar esta pequena homenagem ao Artur com um toque de graça, vou narrar outra tirada sua: Numa reunião da Febem, a manifestação do Bispo, contra o ingresso de filhas de prostitutas na Casa das Meninas, deixou todo mundo cheio de dedos. Todos discordavam, mas ninguém tinha coragem de falar. Menos o Artur que, com seu jeito franco e engraçado, pôs as coisas no lugar, sem aborrecer ninguém: “Ora, Senhor Bispo, então, quem que o senhor quer mandar para lá, a filha do Promotor, do Juiz de Direito?”

* Fonte: Texto de Oswaldo Amorim publicado com o título “Artur, um Homem Singular” no livro Os Bragas de Andrequicé, de Artur Gonçalves da Silveira (2005).

* Foto: Artur e Berenice.

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