CINEMAS RUINS EM 1952

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CINEMATEXTO: JORNAL O REPORTER (1952)

O Progresso em nossa cidade é um fato. Dificilmente se encontra em todo o Estado, um municipio com tanto progresso como o nosso. Mas, infelizmente, há certas coisas aqui que nos causam vergonha. É o caso dos nossos cinemas. São dois, e, se fossem misturados não formariam um que satisfizesse. É lamentável que isso se verifique em nossa cidade, o que absolutamente não se coaduna com o nosso progresso. Não quero apontar a ausência de censura dos filmes, ou de companhias teatrais que aqui aparecem nesta época chuvosa, trazidas talvez pela enxurrada. Essa questão de censura já é uma moda viciosa; o ponto capital é o estado em que se encontram os dois “poeiras” de Patos. No Olinta¹ é um suplicio assistir-se a um filme com toda aquela chieira e interrompendo a todo momento. O entrar-se em qualquer um dos dois cines é desanimador: cadeiras quebradas, teias de aranha, iluminação deficientíssima, cortinas ensebadas e uma sujeira sem fim. O pior de tudo é a projeção. Houve um dia em que mastigaram quinze minutos do celuloide. Isto fora as paradas em meio ao filme, que se tornaram habituais, talvez para descanço do operador. Quero lembrar que nós os patenses, não é presunção, já somos suficientemente civilizados para merecermos algo melhor. Quanto ao confôrto, prefiro não tocar no assunto. Aqui, se houvesse boa vontade dos proprietários, poderíamos assistir bons filmes e com melhor projeção. Poderíamos também ter filmes que saíram há pouco do cartaz das grandes capitais; mas isso não acontece. O filme chega em Araxá e de lá toma outros rumos. Uma prova disso é a fita “Sansão e Dalila”. Não é propriamente um grande filme, mas todos querem assisti-lo pela beleza da música e do tecnicolor. Mas o filme chegou em Araxá tomou uma estaçãozinha de águas e seguiu em frente; e o público patense continua com a sua “sorte cruel” sempre a aguentar os abusos provocados por desmedidas ambições.

Senhores proprietários: Não exigimos ótimos filmes, mas pelo menos melhorem a projeção, aumentem a iluminação, façam a limpeza mais amiude e avisem a molecada da cidade que a sala de espera dos cinemas não é ring para lutas e que sejam diminuidos os pescoções que a toda hora surgem… talvez que assim se consiga tolerar os “abacaxis” que são levados à tela. Pouco se nos interessa se a marca dos aparelhos do Tupan é “Zeiss”, alemão, daqueles fabricados antes da guerra e que são os melhores do mundo; sabemos apenas que a sua famosa marca não impede que suas válvulas queimem, como realmente estão queimadas: é que elas não voltam ao estado primitivo apenas por serem válvulas carimbadas sob a marca “Zeiss”. O do Olinta é “Simplex” dos tais que quando são adaptados com a tela “Glasscreen”, isto é, tela com fio de vidro, obtem-se o máximo em perfeição e nitidez. Mas acontece que a tela do Olinta é feita talvez de americano alvejado, pois é quasi transparente. O Cine União de Chapadão não tem a marca de nenhum destes, e, entretanto, oferece muito mais perfeição. Desculpas que a força é insuficiente não aceitaremos, pois foi muito bôa a projeção do filme da “Noite das Margaridas”, o qual, se fosse projetado em qualquer das nossas espeluncas seria um fracasso.

Vou terminar esse desabafo, porque o ônibus da Lagôa Formosa está saindo e o Cine Esperança daquele distrito está levando a série do Gordo e o Magro e não quero perdê-la.

Se aceita um conselho de amigo, faça como eu: tem-se muito mais proveito assistindo os filmes da Lagôa do que nos pulgueiros daqui.

“Alea jact est”, diria Cesar. Resta-nos aguardar as providências.

* 1: Construído por Amadeu Dias Maciel em 1948, foi ocupado pela Rádio Clube de Patos em 1959.

* Fonte: Texto (assinado por D. P.) publicado com o título “Está errado…” na edição de 12 de fevereiro de 1952 do jornal O Reporter, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Ahcidade.com.

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