E O OSWALDO TINHA RAZÃO…

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ENCHENTETEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1983)

Assunto inevitável em nosso meio nestes dias, é o das recentes enchentes que tiveram seu ponto culminante no último dia 13 e por muito que se queira deixar de falar da pregação que o Oswaldo Amorim vem fazendo há mais de quinze anos, ninguém pôde contemplar aquele triste espetáculo, sem se lembrar dela.

Eu particularmente, venho há anos lendo, ouvindo e discutindo com ele sobre o grave problema que se vem criando com a construção de casas nas faixas alagáveis do Rio Paranaíba e seus afluentes. Inclusive, participei de uma reunião realizada à época da Administração do Prefeito Sebastião Silvério de Faria, na qual a figura central era o Arquiteto, Urbanista e Professor Radamés Teixeira (creio que é este o nome) que viera de Belo Horizonte, a convite do Oswaldo, numa tentativa de sensibilizar o Prefeito e a comunidade da necessidade de um Plano Diretor para a cidade.

Lembro-me de ter ouvido dele naquele dia – e isto deve ter sido há dez anos mais ou menos – que Patos era uma cidade privilegiada, pois apesar de cortada por vários cursos d’água, não ocorriam aqui os problemas tão comuns em outras cidades onde casas são geralmente invadidas pelas águas nos períodos chuvosos, simplesmente porque aqui não as existiam nos limites de perigo.

Quem das gerações um pouco mais velhas não se lembra de que apenas uma “casa de venda” construída junto à velha ponte do Paranaíba, sofria as consequências de suas cheias ano após ano, única e exclusivamente graças à teimosia de seu morador.

Para os que não ouviram nem leram o Oswaldo, ou que o fazendo disto se esqueceram, sugiro que voltem os olhos à página 72 de nossa penúltima edição – a de n.º 62, de 31 de janeiro¹ – de autoria do referido jornalista e político, a quem peço permissão para transcrever um pequeno trecho:

A propósito, até compreendo a desordenada e ilegal ocupação das margens do Córrego do Monjolo, nas cercanias do centro, por famílias humildes. Mas não entendo nem perdôo a aprovação, pela Prefeitura, de um loteamento como o “Jardim Paulistano”, boa parte situado dentro da faixa alagável do Ribeirão da Fábrica, contra a qual eu tanto me bati à época, pelo rádio, pelos jornais e pessoalmente, alertando sobre os riscos de futuras inundações.

E olhem que ele estava escrevendo apenas “Para evitar a tragédia”, como intitulou seu artigo, duas semanas antes da catástrofe e rememorando o triste quadro vivido pela capital mineira nos primeiros dias deste ano.

As enchentes vieram, como não se viam há trinta anos ou mais.

Os maiores problemas se apresentaram na Vila Operária, onde casebres são construídos em sistema de “invasão”, da noite para o dia.

Lá, segundo estou informado o problema será resolvido pela atual Administração de maneira definitiva, mediante doação de terrenos em outras regiões, aos atuais moradores, fazendo-se a limpeza da área de perigo, a trator, e instalando-se um constante policiamento, para se evitar novas invasões.

Mas e o problema do “Jardim Paulistano”, como será resolvido? Os moradores de lá têm melhores condições financeiras e são legítimos proprietários de seus terrenos que foram aprovados pela Prefeitura.

Na parte baixa do bairro, pouco mais de vinte casas foram construídas até hoje, algumas de cinco, seis ou mais milhões de cruzeiros e naqueles dias, seus proprietários e a população em geral, assistiram consternados, as águas do minúsculo Ribeirão da Fábrica, represadas pelo volumoso Paranaíba, recuarem entrando nelas sem a menor cerimônia, ocupando algumas até quase o teto.

Também para lá, a solução seria a permuta dos terrenos (muito mais caros) e a indenização das construções para se desocupar a área, coisa em que nem se pode pensar, dada a situação de penúria financeira da Prefeitura.

A continuar o ritmo de crescimento da cidade, caso ocorra uma nova enchente como esta daqui a dez anos, não mais vinte e poucas casas, mas duzentas ou muito mais, sofrerão as consequências.

O que se fazer então?

Esta é a grande interrogação. Este é o grande desafio para o Prefeito Arlindo Porto Neto, que nos primeiros dias de sua gestão, tem nas mãos este enorme “abacaxi”.

* 1: Leia “Para Evitar a Tragédia!”.

* Fonte: Edição n.º 64 da revista A Debulha de 28 de fevereiro de 1983, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História do Unipam (LEPEH).

* Foto: Presenteparahomem.com, meramente ilustrativa.

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