MOVIMENTO ESTUDANTIL: CCRB E UEP

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

MOVIMENTO 1No ano de 1960, Patos de Minas ficou a frente de Minas Gerais e do Brasil no atendimento às demandas educacionais, pelo menos em números proporcionais. Essa evolução, que teve inicio na década de 1950 com a criação de novas escolas e abertura de mais vagas, contribuiu para o entusiasmo juvenil que desencadeou na fundação do Centro Cultural Rui Barbosa-CCRB, em 1954, e da União dos Estudantes Patenses-UEP, em 1958.

O CCRB não era uma entidade que representava exclusivamente o segmento estudantil, todavia, em seu quadro de integrantes, além de professores, profissionais liberais e demais voluntários, havia um público significativo de estudantes da educação básica e superior. Seis anos após sua fundação, o CCRB recebeu uma homenagem do Jornal Folha Diocesana (10/02/1960), que traduz, em parte, o cenário e as causas de seu surgimento, bem como sua função e contribuições em meio à juventude de Patos de Minas:

Corria o ano de 1954! A mocidade patense acamaradada ao comodismo e a inércia se assemelhava a um velho, quando já o passo vai se tornando hesitante e tardo, quando as esperanças se desfazem ao contato de um mero empecilho e os ideais se extinguem ao arrostar-se com um movimento, ainda que para benefício seu. A este devido à sensibilidade, àquela a um baixo nível cultural, moral e espiritual. Neste ínterim, parecia que um raio de luz iria se projetar no horizonte, a anunciar uma nova aurora. Efetivamente, uma plêiade de jovens, impregnada de nobres e sadios ideais, se propôs a fundar uma Entidade com o fim primordial de dar à juventude o de que necessitava, para o seu aprimoramento em todos os setores. E eis que, aos 19 de julho daquele mesmo ano, viram-se vingados os seus desideratos, com a criação de um Centro Cultural, ao qual se deu o nome de Ruy Barbosa, em homenagem ao imortal baiano. Desde então, vem o C.C.R.B. lutando contra o indiferentismo que envolve a classe estudiosa de Patos de Minas, esquivando-se e combatendo o mórbido torpor que acelera a marcha para a decrepitude moral e, finalmente, propagando e cultivando as letras, incutindo nos jovens o gosto pela leitura, havendo para isso, em sua sede, uma grande biblioteca, muito utilizada por seus associados. No entanto, sentiu-se com o elevar da classe a necessidade de fundar uma Entidade que viesse defender, mais amplamente, os seus direitos e interesses, que viesse lhe proporcionar maior união, que viesse, enfim, dar-lhe novo estímulo para as lutas do futuro. E assim, no dia 26 de abril de 1958, foi criada a União dos Estudantes Patenses, abrindo novas perspectivas para a classe estudantil.

O CCRB era uma entidade conservadora, pois primava pelo resgate e manutenção dos valores morais e éticos, dentro dos princípios religiosos do cristianismo. Seus objetivos eram: formação cultural, moral, cívica e física da juventude; propagar, pela palavra e escritos dos jovens, o culto das virtudes cristãs e da tradição nacional, a reforma dos costumes e a elevação do espírito popular no sentido de um sadio patriotismo. Estas palavras deixam claras as pretensões do CCRB, uma vez que advogavam pela formação integral do ser humano, do intelecto ao físico, passando pela moral e pelo civismo, valores bastante estimados na época. As principais características são a valorização dos ideais cristãos, da democracia, a conscientização para os direitos e deveres dos cidadãos, a restauração dos valores morais pautados na família e no trabalho, o fortalecimento do espírito nacionalista e a democratização do ensino, ou seja, na verdade, tais propósitos representavam a base da cultura ocidental cristã. É necessário ressaltar que a Igreja Católica continuava sendo uma instituição bastante influente no Brasil nesse período, ditando normas e impondo valores, principalmente no interior no país, marcado pelo conservadorismo. Em Patos de Minas, precisamente no dia 05 de abril de 1955, criou-se a nova Diocese. O sentimento que pairou em meio a esse fato foi de entusiasmo e comemoração, uma vez que os destinos espirituais dos povos da região estariam, a partir daquele momento, mais firmemente ancorados pelo poder secular da Igreja, conforme acreditavam seus fiéis.

Dercílio Ribeiro de Amorim afirma que Padre Almir Neves de Medeiros foi o “grande incentivador e mobilizador da juventude patense”. Segundo ele, o jovem Padre teve uma participação dinâmica e efetiva na vida social do município de Patos de Minas, embrenhando-se em questões de ordem política, econômica, social e cultural, que regeram a cidade nas primeiras décadas da segunda metade do século XX. Sua ordenação, em 28 de outubro de 1956, coincidiu com a 1ª edição do jornal Folha Diocesana, que veio comemorar a chegada do Bispo Dom José André Coimbra e a ordenação de dois diáconos (primeira realizada pela recém-criada Diocese de Patos de Minas), sendo um deles o próprio Almir.

MOVIMENTO 2Logo na 3ª edição da Folha Diocesana , publicada em 23 de dezembro de 1956, Padre Almir já assumira o cargo de diretor responsável, menos de dois meses após sua ordenação. O jornal surgiu com a finalidade de focalizar a atenção dos fiéis, instruir e orientar, publicar o movimento e avisos da Cúria Diocesana e noticiar o andamento religioso das paróquias. Seu lema era: “informar, instruir e orientar”. No entanto, contrariando os princípios originais de sua criação, que seriam eminentemente voltados para os assuntos da Igreja, Padre Almir adotou a causa estudantil, reservando, inclusive, uma coluna para os jovens estudantes. Desse modo, a Folha Diocesana passou a ter uma importância significativa para a história do movimento estudantil em Patos de Minas, uma vez que, por meio dela, e ratificados pelo seu diretor, Padre Almir, os estudantes puderam comunicar-se entre si e também com os diferentes segmentos sociais, divulgando suas ações e participando direta e indiretamente de questões de interesse do município.

Por outro lado, ainda que implicitamente, setores conservadores da Igreja Católica e também da sociedade civil aproveitaram-se da influência e do trâmite do Padre entre os estudantes para monitorar as ações do movimento estudantil local. Através do acompanhamento – e “direcionamento” – de suas publicações no periódico, buscou-se a preservação dos valores e ideais defendidos pelas forças conservadoras da cidade. Não há como negar o conservadorismo adotado nos Estatutos do CCRB, tampouco a consonância com os propósitos defendidos pelo Padre Almir Neves de Medeiros, especialmente no que diz respeito à conduta social. Tamanha sintonia e comunhão de ideais podem ser identificadas numa publicação do jornal em 10/02/1960:

Revmo. Pe. Almir Neves de Medeiros, incansável batalhador, que tem conseguido plasmar a mocidade dentro dos moldes cristãos e da Juventude Estudantil Católica. Alicerçada em princípios cristãos e embasada no Evangelho, tendo como dístico à sua frente a figura ímpar do Revmo. Pe. Almir, grande influência exerceu a JEC no meio estudantil, prestando meritórios serviços à classe. E o C.C.R.B., em reconhecimento ao trabalho dêsse digno sacerdote entre a mocidade, homenageou-lhe com o título de Presidente de Honra, demonstrando, assim, sua gratidão e simbolizando os frutos já sazonados, cujo campo fôra por ele semeado, através de seus conselhos e lições.

Por fim, conforme os Estatutos, os objetivos do CCRB consistiam em: “incrementar a cultura entre a mocidade, trabalhar para a formação dos jovens, desenvolvendo-lhes suas qualidades e dotes literários, pugnar e trabalhar para a criação de novos centros culturais”. No entanto, para o cumprimento de tais metas era necessária a observância e o respeito aos princípios norteadores da moral e da ética, na perspectiva dos valores defendidos pela Igreja Católica.

A imprensa, especialmente a Rádio Clube de Patos e o jornal Folha Diocesana, teve participação significativa no processo de popularização das ideias e ações dos estudantes, uma vez que se tornou parceira na formação da entidade e na posterior consecução de seus objetivos. Em menor grau, mas também importante, foi o Jornal dos Municípios. Apesar de não estar diretamente ligado ao movimento estudantil, ele não se furtou em divulgar suas ações quando solicitado, ou lhe fosse conveniente. Em relação à Rádio, essa parceria explica-se pelo fato de que ela possuía em seu quadro de funcionários vários estudantes, dentre eles, Rubem Corrêa da Costa, que exercia na referida empresa o cargo de diretor, facilitando sobremaneira o acesso de seus colegas aos microfones da mesma na interlocução com a comunidade patense e região.

Além da abertura que os estudantes possuíam na Rádio, eles contavam ainda com um programa específico denominado “A Hora do Estudante”, criado entre os anos 1962 e 1963. Este programa noticiava as ações estudantis, especialmente da UEP e do CCRB, mas também quaisquer informações relacionadas à cultura e à educação. Com poder semelhante ao da imprensa escrita, o rádio serviu também como instrumento de persuasão social, viabilizando a inculcação dos valores defendidos pelos estudantes. O Jornal Folha Diocesana, órgão de imprensa da Igreja Católica local, possuiu durante muito tempo uma coluna especial para noticiar as ações dos estudantes, intitulada Observatório Estudantil. O Jornal também contava com estudantes em seu quadro profissional, dentre eles, destaca-se o jovem Agostinho Rodrigues Galvão, que exercia a função de revisor e veio a ser eleito o primeiro presidente da UEP. Mas, sem dúvida alguma, um dos maiores aliados dos estudantes no jornal foi seu próprio diretor, o Padre Almir.

Por meio da análise dos discursos existentes na Ata de fundação da UEP é possível perceber as características que influenciaram no seu surgimento. O principal argumento utilizado pelos estudantes para justificar sua fundação foi a defesa dos interesses da classe. Sem entrar no mérito do conceito de classe, os interesses a que se referem correspondiam à defesa de seus direitos. Em reportagem publicada na Folha Diocesana (16/03/1958), lê-se o seguinte:

Chegou a hora de, a par com as obrigações que de nós exigem e devem exigir, está claro, mostrarmos que aluno não é só DEVER mas também DIREITO. Quando estas duas coisas: DEVERES e DIREITOS, estiverem andando juntas em cada escola, estejamos certos de que nós, os estudantes seremos outros que não bonecos nas mãos de quem quer que seja. Que meus colegas compreendam a responsabilidade que pesa sobre nossos ombros! Iremos para a pugna nas urnas… em busca de um melhor mundo estudantil.

Foi pautada neste discurso que se delineou a fundação da UEP, que, conforme relata os próprios estudantes, ficaria incumbida de coordenar os movimentos estudantis da cidade. Para tanto, logo na primeira reunião em que se pleiteava a formação da mesma, ocorrida em 10/02/1958, foi organizada uma diretoria provisória composta por um presidente, um secretário e um tesoureiro, cargos ocupados respectivamente por Waldemar Antônio Mendes, Edgar Amâncio e Rubem Corrêa da Costa. A função desse grupo seria a divulgação à comunidade patense das ações direcionadas à criação da entidade estudantil e, ainda, a elaboração dos Estatutos que passariam a regê-la: Precisamente, às dezenove horas do dia dez de fevereiro de mil novecentos e cincoenta e oito, reuniram-se na sala cento e dois do Edifício Paranaíba os estudantes: Rubens Corrêa da Costa, Waldemar Antônio Mendes, Edgar Amâncio, Antônio Pérsio da Silveira e Tarcísio Thadeu Rezende a fim de organizar uma União dos Estudantes que viesse defender os interêsses da classe.

Dessa reunião nasceu a União Estudantil Patense, posteriormente denominada de União dos Estudantes Patenses. É necessário ressaltar que todos os estudantes acima relacionados eram alunos da Escola Técnica de Comércio Pio XII, posteriormente denominada de Colégio Comercial Sílvio de Marco, cujo diretor era o Padre Almir. Uma expressão proferida pelos estudantes e registrada na Ata de fundação da entidade merece atenção especial: “A União pugnará pela verdadeira Democracia Cristã”. Essa afirmativa reflete a influência exercida pela Igreja Católica no movimento estudantil patense. Pautando-se em princípios religiosos, a UEP nasceu amparada e fortemente incentivada pelo jovem Padre, que se tornou um grande parceiro das atividades por ela desenvolvidas. Um dos fatores que podem justificar tal afirmação é abertura que ela passou a ter no Jornal Folha Diocesana.

Ao final da primeira reunião, em 10/02/1958, ficou determinada a data em que seria realizada a primeira assembleia geral, dia 26/02/1958, cujo objetivo era a discussão e aprovação de seus Estatutos. Entretanto, conforme Ata da segunda reunião, a assembleia teria ocorrido apenas no dia 15 de março e contado com a presença de três educandários: o colégio Nossa Senhora das Graças, a Escola Técnica de Comércio Pio XII e a Escola Normal Oficial. Foi nessa segunda reunião que mudaram o nome original da entidade, de União Estudantil Patense para União dos Estudantes Patenses. Posteriormente, foi convocada a 3ª Assembleia para o dia 24 de março, às 19h30min, no auditório da Rádio Clube de Patos, onde seriam “apresentados para discussão, ratificação e aprovação os Estatutos da UEP, assim como também eleição da Diretoria desta Entidade”. Apesar de sua origem ser justificada por meio da luta pela defesa de direitos, a eleição que se projetou para escolha dos membros dirigentes não pode ser considerada totalmente democrática, pelo fato de ter sido indireta, ou seja, apenas alguns representantes de cada colégio puderam votar. Estariam aptos a votar apenas 5 estudantes de cada colégio, eleitos pelos colegas, e também mais cinco membros pertencentes à comissão fundadora. Os Estatutos da UEP apresentam uma versão diferente, mas que não altera a natureza das eleições. O artigo nº 52 traz a seguinte redação: A Primeira Diretoria será eleita pelo sistema de voto indireto, por meio de representantes dos Corpos Discentes dos estabelecimentos secundários e médios da cidade, escolhidos na proporção de, no máximo, 75 elementos para cada colégio, vigorando para as eleições futuras, em toda sua plenitude, o art. 36.

MOVIMENTO 3Para a primeira eleição foram organizadas duas chapas, lideradas, respectivamente, por Augusto Olímpio de Queiroz e Waldir Nascimento. No entanto, como se pode ler no trecho abaixo (Folha Diocesana – 30/03/1958), essa primeira experiência dos jovens estudantes de Patos de Minas parece não ter tido o êxito esperado: Ainda desta vez, tudo permaneceu na estaca zero. Quando entrei no auditório da ZYB-4, tive a impressão de que penetrava em um perigosíssimo campo de guerra… Pairava no ar a conspiração… Um “cheiro” forte de ódio misturado com vingança… Bastou uma fagulhazinha para que os ânimos se acendessem. Nunca vi, em tão longo tempo, falar-se tanto sem dizer-se coisa alguma. Verdadeira batalha de incoerências, sofismas, vaias, elogios complicados… e outras coisitas mais… Falou-se em ditadura, comunismo, integralismo e outros “ismos”… Argumentos esfarrapados voavam daqui para ali… Ninguém se entendia. Ninguém chegava a um acôrdo. Um verdadeiro long-play de ataques e defesas… Mas… o que seria bom (discussão dos Estatutos e Eleições) nada! Do assunto programado, nada, ou quase nada. Se lá permanecemos das 19.30 às 23.10 horas, posso afirmar, com documentos em mãos que, juntando tudo o que se disse e o que não se deveria dizer…, não soma meia hora o tempo gasto na discussão dos Estatutos. Sinceramente, meus amigos, envergonhado fiquei. Olhava ao redor e contemplava meus professôres, eminentes figuras de nossa sociedade como que a fazer uma grande platéia daquela impagável comédia de êrros. Menos interêsse houve nos destinos da U. E. P. do que fazer explodir desforras bem urdidas. O bem particular ficou acima do bem comum. Ninguém se lembrou de que estavam em jôgo os destinos da Juventude dos Estudantes Patenses. Eram só os próprios interêsses que vinham a tona. Tudo foi sacrificado em função de pseudos direitos que ninguém via. Questões pessoais melhor ficaria para conversas particulares, vieram a público, sem qualquer interêsse para nós estudantes. Ficamos a assistir a explosões de ofensas e a “curativos” manhosamente envolvidos em elogios baratos… Uma triste “avant-première” para os “futuros” deputados e vereadores… Não fôsse a presença de um sacerdote, creio que a coisa seria bem pior. Sejamos francos, quem poderia debater assunto sério em tal ambiente? Não distribuirei responsabilidades a quem quer que seja. Cada um tome a porção que lhe coube. Vamos ver se em outras oportunidades damos melhor prova de que somos mais civilizados. Mesmo que o exemplo tenha vindo de quem poderia exibir mais esportividade em debates… é preciso fazer barreiras a êsses desmando inqualificáveis… Não podemos bater palmas a tudo o que aconteceu! Vamos para outra!

Não foram alcançados os objetivos pelos quais se realizou a assembleia, ou seja, a discussão e aprovação dos Estatutos e eleição da diretoria. Entretanto, é possível perceber nessa “fracassada” reunião a sinalização para questões e temas que se tornaram bastante frequentes nas pautas de discussões dos líderes estudantis da UEP nos anos que se seguiram, como ditadura e comunismo. Outro fator que merece especial atenção é a alusão que o texto faz ao futuro político sugerido aos jovens estudantes e líderes da UEP: vereadores e até deputados. Fica claro, portanto, a consciência das lideranças desse movimento em relação às consequências – principalmente positivas – que poderiam advir a partir da fundação e militância nessa entidade.

Essa reunião mudou a história do movimento estudantil em Patos de Minas, uma vez que os dois primeiros pré-candidatos deixaram a disputa depois da confusão. Surgiu, então, um novo nome, Agostinho Rodrigues Galvão, que foi apresentado pelos jornais como sendo quase uma unanimidade em meio ao segmento estudantil (Folha Diocesana – 30/03/1958): demitiram-se os candidatos à Presidência da U.E.P.: os Srs Waldir Nascimento e Augusto Olímpio Queiroz. Novas chapas estão sendo feitas. O Sr. Agostinho Rodrigues Galvão está surgindo como elemento pacificador em todos os círculos estudantis. Querem lançá-lo como candidato único à Presidência. Felissícima escolha. Que também êle não venha demitir-se.

Finalmente, após o período de instabilidade gerado pelas disputas de poder, foi eleita a primeira diretoria da União dos Estudantes Patenses, assim constituída:

Presidente: Agostinho Rodrigues Galvão
Vice-Presidente: Ricardo Rodrigues Marques
1º Secretário: Altamir Pereira da Fonseca
2ª Secretária: Alaíde Borges de Sousa
1º Tesoureiro: Silvio Xavier dos Santos
2ª Tesoureira: Maria Regina Marra
1º Orador: Celso Gonçalves de Brito
2º Orador: Selmo de Assis Araújo
Bibliotecário: Octaviano Magalhães
Auxiliar de Bibliotecário: Vivaldo Ferreira Maciel
Conselheiros: Adilson Augusto de Deus, Antônio Severino da Silveira, Arnoldo Ribeiro da Costa, Hélida Pereira da Fonseca, José Paschoal Borges de Andrade.

Após a eleição da diretoria as atenções voltaram-se para o processo de elaboração dos Estatutos, que passariam a reger a organização interna da entidade, bem como delinear sua postura em meio à sociedade patense. A UEP é entidade de representação e coordenação dos Corpos Discentes de todos os estabelecimentos de Ensino Primário, Secundário e Médio da cidade, bem como dos estudantes de nível universitário, matriculados em Escolas Superiores de outras cidades, porém aqui residentes, desde que comprovada a sua condição de estudante. A aprovação dos Estatutos pelos estudantes comprovou as influências recebidas de setores conservadores da sociedade patense e também da Igreja Católica, o que contribuiu para a consolidação da identidade da UEP.

MOVIMENTO 4No artigo 3º, que diz: “Compete à UNIÃO DOS ESTUDANTES PATENSES”, a alínea “g” traz o seguinte enunciado: “Lutar pelo respeito à dignidade da pessoa humana, por uma autêntica democracia cristã e pela estrita observância da Constituição Federal”. Além do espírito de humanidade e de cidadania previstos pelos e para os estudantes, esse pequeno trecho vem comprovar mais uma vez a influência exercida pela Igreja no movimento estudantil local. Ratificando tal afirmação, é assinalado no título VI – DAS ATIVIDADES CULTURAIS, artigo 42º, que a UEP “Criará uma biblioteca de acordo com os princípios morais expostos nestes Estatutos e dentro do espírito cristão”. Ou seja, as intenções foram traduzidas, na prática, numa alternativa metodológico-pedagógica que pudesse ser eficiente e que legitimasse os verdadeiros propósitos de seus idealizadores.

No artigo 10º, cujo título é “DEIXARÃO DE SER MEMBROS ATIVOS DA UEP”, na alínea “a”, lê-se: “Os elementos que forem adeptos do Socialismo, Comunismo, Doutrinas Racistas, Totalitaristas ou Anarquistas”. Esse repúdio às teorias esquerdistas deixa claro a filosofia político-ideológica em que se pautaram os dirigentes da UEP durante o processo de constituição da entidade. Tal aversão é consequência da situação vivida pelo Brasil no plano internacional nesse período. Em plena Guerra Fria, e com o país integrando o bloco capitalista, era natural que houvesse tamanha antipatia com as teorias que representassem tendências de esquerda. O que reforça ainda mais essa situação é o êxito da política populista-desenvolvimentista implementada no Brasil, resultando no crescimento econômico advindo com a administração do governo JK. De modo geral, essa postura anti-comunista também fez parte do ideário da Igreja Católica nesse tempo, influenciando, decisivamente, o posicionamento da Igreja local.

O artigo 16º traz o seguinte enunciado: “Os membros Diretores serão eleitos pelo sistema de voto indireto, através dos representantes dos Corpos Discentes dos estabelecimentos de Ensino Secundário e Médio da cidade, na proporção de 35 (trinta e cinco) para cada estabelecimento, conforme preceitua o art. 36”. A entidade que nascia pleiteando a defesa dos direitos dos estudantes inicia suas atividades limitando a participação de boa parte deles nas eleições. Isso nos faz concluir que os conceitos de democracia existentes entre os líderes da recém-criada entidade estudantil eram bastante limitados.

As primeiras eleições da UEP seguiram o mesmo princípio da Constituição Federal de 1946, o princípio da seletividade. A natureza excludente da referida Constituição (que, apesar de ter declarado universal o voto para maiores de 18 anos, excluía do processo eleitoral analfabetos, cabos e soldados, ou seja, mais da metade da população brasileira) pode ter influenciado os líderes estudantis na definição do restrito colégio eleitoral que teria direito a votar na escolha de seus dirigentes .

Assim foi constituída a UEP, influenciada pelo CCRB e pelo Padre Almir, portanto, permeada pelo misticismo religioso da Igreja Católica. O jovem Padre foi peça fundamental no surgimento da entidade, pois, juntamente às lideranças do CCRB, lançaram as bases filosóficas que constituíram seu caráter político e sócio-cultural. O surgimento da UEP possibilitou que se delineasse entre os jovens estudantes de Patos de Minas a formação de um sentimento de pertença ao segmento estudantil, ou seja, um sentimento de identidade estudantil.

* Fonte: A Constituição do Movimento Estudantil Secundarista em Patos de Minas/MG: A União Dos Estudantes Patenses – UEP (1958), de Geenes Alves da Silva – Universidade Federal de Uberlândia/MG – UFU.

* Foto 1: Caiarabarreto.blogspot.com.

* Foto 2: Educacao.cc.

* Foto 3: Puc-riodigital.com.puc.rio.br.

* Foto 4: Passapalavra.info.

Compartilhe