ALARGANDO RUAS E MENTALIDADES

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ATEXTO: OSWALDO AMORIM (1974)

Estou certo de que todos os patenses querem vias amplas, como as legadas por nossos antepassados, e não ruas mofinas, impingidas muito depois pelos especuladores imobiliários, com a indesculpável complacência da administração pública e contrariando o espírito original da cidade.

Outro dia falei sobre o recurso do recuo dos alinhamentos para se alargar ruas, praças e avenidas. E citei os exemplos da rua Tiradentes e da praça Abner Afonso, ampliada por este meio. Acrescento agora outro bom exemplo: a rua Padre Caldeira, que liga a Rodoviária ao Mercado.

É bom notar que todos esses alargamentos se deram em ruas já edificadas e, por isso, de forma lenta. Determinado o recuo, obedecia-se o novo limite na hora de se erguer uma casa nova no lugar de uma velha. Assim, aos poucos ia crescendo o número de casas recuadas. Com o passar do tempo, invertia-se a proporção inicial, passando as casas recuadas a predominar, até completar-se o processo.

Ora, se isso foi e é possível em ruas edificadas, em ruas sem construções o processo, obviamente, é muito mais rápido e simples. Basta determinar-se o alargamento, para o casario brotar dentro dos novos alinhamentos. E isso é justamente o que precisa ser feito, com critério e sem demora, numa série de vias públicas da cidade, antes que novas construções venham a dificultar o processo. Sobretudo em trechos novos de velhas ruas, como a Olegário Maciel, que se estreitaram ao se espicharem ao longo dos anos, depois que o espírito aberto de nossos ancestrais deixou de ter seguidores à altura.

O trecho recém aberto da rua General Osório está neste caso. É urgente que seu alargamento seja determinado. Agora isso é facílimo, por causa da ausência de construções. Mas se a providência tardar, as construções irão fatalmente surgir e tudo se complicará…

Evidentemente, não se trata de ajeitar duas ou três ruas, mas toda uma série de vias importantes para a circulação da cidade a curto, médio ou longo prazos. Pois a vida de uma cidade não pode ser medida pela vida de uma geração. Naturalmente isso requer um bom estudo prévio, que leve em conta o problema da interligação de vários setores da cidade e o adensamento do tráfego em função do crescimento urbano.

O ideal mesmo é que esse trabalho e mais amplamente ainda, a implantação do Plano Diretor da cidade, seja confiado a um arquiteto, com bons conhecimentos de urbanismo e bastante sensibilidade para a questão.

Quando Patos de Minas, além de grande centro agropecuário, começa a projetar-se como grande entroncamento rodoviário e pólo de desenvolvimento, a real e adequada implantação do Plano Diretor assume uma importância cada vez maior. Sobretudo considerando-se que nossa terra, justamente pelas suas magníficas possibilidades, foi incluída pela recém-criada Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana, entre as principais cidades que serão objeto específico dos programas federais para o desenvolvimento urbano¹.

Entretanto, é preciso reconhecer que mais importante que alargar ruas, é alargar mentalidades. Afinal, como costuma dizer o urbanista Radamés Teixeira, uma cidade é um retrato – em pedra e cal – das espirações e condições culturais de seu povo. Ruas largas ou estreitas, no fundo, apenas refletem a mentalidade de sua gente.

* 1: Referência ao chamado programa das Cidades-Dique, iniciado no governo Dácio, que proporcionou fartos recursos a Patos, principalmente na gestão seguinte.

* Fonte: Texto publicado na edição de 24 de outubro de 1974 do jornal Folha Diocesana e republicado na edição n.º 27 de 19 de abril de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.

* Foto: Eduperssona.blogspot.com.

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